terça-feira, 24 de julho de 2007

Termo em discussão



Durante um bate papo com meu amigo Guilherme Gonser, sujeito engajado da cena musical/independente de Belo Horizonte, discutimos um pouco sobre o conceito de "música independente".
Eu tinha bem claro para mim que o termo deveria se aplicar apenas ao pessoal que estivesse fora do “esquemão” das grandes gravadoras, enfim, àqueles que dependem única e exclusivamente dos próprios recursos para produzir o seu trabalho artístico.

Repensei essa idéia depois que o Guilherme me mostrou o piloto de um programa de rádio, que ele está desenvolvendo, cujo tema central é justamente o assunto em pauta neste texto. No programa, duas figuras importantes do cenário músical em Minas discutiam o assunto:
Um deles é o Leandro Ferrari, músico que conhece de perto a indústria mainstrean e o Claudão, dono do bar “A obra”, um dos principais redutos da cena independente de BH (e do Brasil, sem exageros). O Claudão definiu o termo de uma forma que eu não havia pensado antes. Para ele o artista pode ser considerado independente desde que realize a concepção do seu trabalho de uma forma autônoma, sem forçar a barra para se encaixar no mercado, e isso pode ocorrer mesmo estando em um grande selo.

Definir o termo a partir daí abre parâmetros mais amplos e precisos de avaliação, já que o importante é a forma do trabalho realizado, e não os meios de distribuição e divulgação, pelo menos é assim que eu enxergo a coisa.
Alguns exemplos clássicos: Chico Science e Nação Zumbi estavam na Sony durante os anos 90, e nem por isso deixaram de realizar seus trabalhos da maneira que achavam correta. Tem ainda, Marcelo D2 e cia, nos bons tempos do Planet Hemp, e o que dizer então do Cordel do Fogo Encantado? Gosto de pensar na independência por este lado da postura do artista em “brigar” por sua liberdade criativa. Por outro lado, é pertinente indagar até que ponto essa “liberdade criativa” é possível quando se está irremediavelmente atrelado ao mercado da música. Mesmo olhando a coisa a partir desta ótica, considero as observações do Claudão muito válidas. Noto hoje que muitos selos perceberam que dar liberdade ao artista é algo que pode ser perfeitamente colaborativo para o sucesso comercial da empreitada, e não um impecílio como se imagina comumente. A lição partiu dos próprios artistas e selos independentes que vêm surgindo nos últimos tempos. A gravadora Trama, de João Marcelo Bôscoli foi o primeiro selo independente do Brasil a conseguir uma colocação firme no mercado fonográfico. Não cabe aqui discutir os fatores que influenciaram no resultado positivo do selo, o importante é perceber o quanto vêm se tornando cada vez mais viável a produção de uma música compromissada única e exclusivamente com a arte em si e com o público (não necessariamente com a massa). A própria forma de “consumir” música hoje em dia contribui para essa reconfiguração. A possibilidade de os artistas divulgarem seus trabalhos através da web fez com que as gravadoras perdessem o posto privilegiado que ocupavam em outros tempos, quando constituíam a única possibilidade de escoamento para a produção musical.
Enfim, os tempos mudaram e ser “independente” não é mais uma questão de estar alijado do grande mercado fonográfico, trata-se de uma determinada postura, uma forma de encarar e construir o trabalho de uma maneira que se possa chamar de “autêntica”.


Rogério Dias é estudante de jornalismo e colaborador da revista de humor e cultura “Jararaca Alegre”