domingo, 7 de agosto de 2011

Nada é impodível com Di Melo, O Imorível

Por Rogério Dias












Responsável por um dos mais cultuados discos da “Black music” brasileira, o pernambucano Roberto de Melo Santos, mais conhecido como Di Melo, volta aos palcos e estúdios após um misterioso afastamento de 35 anos, o que gerou os mais variados boatos, com versões que afirmavam até mesmo a morte do músico. Mais vivo do que nunca, Di Melo assume a alcunha de "O imorrível" e retorna com um pacote completo que inclui o relançamento do seu antológico (e ainda único) álbum, publicado originalmente pela EMI, em 1975, e um documentário que conta essa impressionante história.





Residindo atualmente em São Paulo, o cantor e compositor Di Melo acumulou em suas três décadas de reclusão, fãs de várias partes do mundo, mais de 400 canções e diversas especulações sobre o seu desaparecimento. Quando perguntado sobre a razão de ter lançado um único LP ele não titubeia. “Em algum momento da minha carreira o que eu queria fazer não estava sendo feito, e o que queriam me impor eu não queria aceitar, então eu meio que me esquivava”, conta, referindo-se, talvez, às pressões artísticas das gravadoras na época em que gravou o seu disco de estreia.

Mas outros fatores foram ainda mais determinantes para que Di Melo saísse de cena, “entre elas o fato de eu ter músicas estouradas nos discos do Vando e do Jair Rodrigues. O meu próprio disco tocava o tempo inteiro, saía de uma rádio e ia para a outra. Quando fui receber meus direitos autorais tinham apenas onze cruzeiros. A partir daí eu me desencantei. Não que eu estivesse focado apenas no dinheiro, mas era muita trabalheira pra absolutamente nada, então eu me senti como se estivesse assinando diploma pra otário”, lamenta. Apesar disso, o músico afirma que jamais se afastou das artes, com centenas de canções criadas e dois livros que, de acordo com ele, só não foram publicados devido à falta de patrocínio.



O Imorrível entre as dez maiores vozes do planeta
Corroborando o senso comum que diz que nossos artistas costumam ser mais valorizados lá fora, Di Melo conta sobre o seu disco, encontrado a venda na Holanda pelo valor de 700 Euros. Os amigos sempre o informavam sobre a popularidade de suas músicas em outros países, de como os DJs e colecionadores haviam”redescoberto” seus grandes sucessos. “Eu costumava brincar que conheci quatro cantores: Frank Sinatra, Pavarotti, Toni Beneth e eu (risos). Certa vez um amigo me ligou de Londres, às 8 horas da manhã, e me disse assim: ‘Di melo meu velho, saiu uma pesquisa apontando você como uma das dez melhores vozes da música mundial, mas é uma pena que você morreu em um acidente de moto, após ter gravado um único disco, épico, com os grandes músicos da música brasileira”, conta orgulhoso ao referir-se ao LP que conta com participações de nomes ilustres como o multi-instrumentista Hermeto Pascoal.




De todas as histórias, o boato a respeito do acidente de moto que teria tirado sua vida é o que mais se aproxima da verdade, a não ser pelo fato de que Di melo permanece vivo. De acordo com ele, o tal acidente foi grave e custou “fábulas” para que sua recuperação se completasse. Juntando isso ao seu afastamento do mercado fonográfico, vieram as várias versões sobre o que teria lhe acontecido, e a notícia mais recorrente dava conta do óbito do cantor. “Daí eu disse: morri e esqueceram de me avisar. Como eu já havia criado a frase ‘Nada é impodível com Di Melo..’ daí veio o ‘imorrível’, completa.



Próximos passos
Com energia renovada, Di Melo conta sobre a boa receptividade que vem recebendo por parte do público jovem e da imprensa especializada, além do aguardado documentário “Di Melo – O Imorrível”, resultado do trabalho realizado por Alan Oliveira e Rubens Pásaro. O filme aborda a carreira do cantor a partir dos pontos de vista de nomes como Simoninha, Nelson Motta e Charles Gavin. Alé do relançamento em CD do seu álbum, O Imorrível promete também novos discos mostrando um pouco do que ele tem feito nas últimas décadas. E quem viver, verá.