quarta-feira, 7 de maio de 2014

Ninguém aqui é macaco


A essa altura o episódio em que o jogador Daniel Alves foi hostilizado por um torcedor que lhe arremessou uma banana já é notícia velha. Mais uma dessas manifestações racistas imbecis, que são muito mais um indício de pouco desenvolvimento mental do sujeito do que de “maldade” propriamente dita. Alves foi rápido na reação, ao comer a banana e marcar o gol contra o time do agressor. O que se segue  é algo que extrapola (negativamente) a própria reação do jogador, com manifestações de "apoio" que, se de um lado apontam uma certa intolerância torta ao racismo (pelo menos no futebol, porque no cotidiano ele passa totalmente batido), do outro apresenta um raciocínio geral limitado em relação a todo um processo de redução, desumanização da população negra no país.
Quando vi várias pessoas, entre anônimos e “celebridades” compartilhando a hashtag #SomosTodosMacacos fiquei curioso pra saber de onde veio, e se já me causava uma reação negativa natural isso aumentou  quando soube da ideia publicitária por traz de tudo. Mais ainda quando vi Luciano Huck fortalecendo a pseudo campanha anti-racismo, que mais revela e fortalece o preconceito que qualquer outra coisa.
 Compartilhei a indignação no meu perfil do facebook, já esperando os ataques uma vez que o absurdo parecia ser um consenso, até por contar com a assinatura do Neymar. Supreendentemente tive apoios  com os quais não contava. O post traduz o sentimento melhor que qualquer explicação que eu possa dar agora e tenho dito: #NinguémAquiÉmacaco



A campanha do "todos somos macacos" é uma criação publicitária travestida de movimento, e equivocado ainda por cima. 
A ideia "brilhante" (Só Que Não) foi desenvolvida pelo publicitário Guga Ketzer, com a intenção de "tirar a força da palavra do agressor preconceituoso". 

Despolitizar a questão vai na contra-mão de todo um processo de luta de negros e negras contra a pecha estigmatizante do "macaco". O xingamento em questão sempre foi usado com o objetivo de desumanizar, reduzir quem já foi espoliado das mais diversas formas.

Pra quem não sabe o que é isso na pele (literalmente) ou se porta como mico domesticado aderindo a qualquer coisa sem reflexão, é muito fácil adotar o sorriso blasé de "gente bonita e descolada" pegando carona no ato do Daniel Alves (que tem outro contexto). Na prática a parada toda acaba reforçando o discurso da turma do deixa disso, de que preconceitos e afins são culpa do discriminado. Aquela coisa repugnante de se ouvir e ler:"o maior racista é o próprio negro".

Gol contra, Neymar. Prefiro ficar como antipático (assumido), sem esportiva a compartilhar a tal hashtag. Não sou macaco, muito menos amestrado por campanhas idiotizantes.