terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Histórias cruzadas



The Help, filme americano que ganhou o título de “Historias Cruzadas” no Brasil, retrata a segregação racial nos Estados Unidos dos anos 60, trazendo a intolerância e o preconceito como motes principais mas apresentando o respeito e a amizade como contrapartida.  A história da jovem jornalista que retorna à sua cidade natal (Jackson) e resolve escrever um livro sobre a forma como as empregadas domésticas (todas negras) são tratadas naquela cidade é simplesmente tocante. Impossível não se indignar com o que a tela nos mostra, impossível também não se emocionar com as demonstrações de perseverança e superação das personagens. De um lado a garota branca do Mississipi que não se encaixa nos padrões conformistas e racistas de sua cidade e época, e,do outro lado, mulheres negras que têm que lidar com seus dramas pessoais e viver em uma sociedade tão abertamente segregada.

A idéia da dificuldade em transpor as barreiras sociais está presente o tempo inteiro, mas uma cena em particular me chamou a atenção: quando a personagem conta que é uma empregada doméstica, e que a sua mãe antes dela também o fora, assim como sua avó foi escrava. O relato demonstra a dificuldade em se romper o ciclo social e avançar. Ao ser perguntada sobre o que gostaria de ser, a personagem simplesmente não responde. Como se não tivesse sequer cogitado essa possibilidade, porque ela simplesmente não existia. Difícil segurar aquela lágrima que insistia em vir com as cenas mais tocantes.
A dificuldade existente em se caminhar apesar das condições ganha um retrato pragmático nessa cena, afinal a força de vontade é essencial, mas é necessário que ela venha em doses triplicadas para transpor barreiras tão difíceis. Esforço hercúleo empreendido tanto pela personagem em questão quanto pela jovem escritora, ambas tem que lidar com questões culturais muito arraigadas, ainda que de pontos de vista diferentes. Realizar mudanças é mais perigoso e difícil do que realmente parece e o filme traz isso para a tela, pessoas que se recusam a aceitar realidades tão desiguais e do outro lado sempre há quem deseje manter a todo custo o status quo. Impressionante como o diretor consegue tratar o tema com  leveza, inserindo boas pitadas de bom humor às situações, dosando muito bem elementos dramáticos com os momentos de alívios cômicos.  Trata-se de um filme para ser visto e revisto. Boas atuações, direção e uma boa história, mesmo que triste.
Ao final da sessão as lágrimas não tinham chegado, muito mais por uma inexplicável restrição em demonstrar emoções em público do que pela falta de empatia com a história, com a qual me identifiquei em um nível muito pessoal.