terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Apenas uma piada...












Minha dificuldade em rir de determinadas piadas tem crescido consideravelmente. Pensei se o problema não seria o meu senso de humor e cheguei à conclusão de que, ou ele não é tão apurado, ou a definição de “piada” da grande maioria anda um tanto distorcida. Definitivamente, não consigo compreender o humor por trás das ditas piadas que desmerecem crenças religiosas minoritárias (candomblé, etc), de teor homofóbico, machista ou mesmo as tais “piadinhas” racistas, com as quais tive que conviver ao longo da vida e sempre ouvindo que não passavam de meras brincadeiras, portanto eu não deveria me importar.

E está aí o grande mérito dessas formas “inocentes” de disseminar o preconceito: são apenas “brincadeiras”. Tão inocentes que, na minha infância as tais piadas eram lugar comum na programação televisiva, refletindo de maneira ainda mais aberta uma cultura fascistoide e retrógada.

E, se avançamos, pelo menos no aspecto de a TV não se permitir mais algumas aberrações tão explícitas (apenas algumas, porque há uma lista infindável delas), ainda contamos com uma cultura extremamente conservadora e que não permite a presença do “outro”, aquele que difere em aspectos filosóficos, no gênero, na opção religiosa, sexual ou até mesmo no direito de não pertencer a nenhuma religião.

Ironicamente, nos orgulhamos da liberdade existente no mundo ocidental (em contra-ponto à opressão do oriente médio – como se aqui ela não existisse), mas nos mostramos tão fundamentalistas quanto aqueles a quem costumamos taxar de “atrasados”.

Quanto às piadas, elas têm perdido, pelo mau uso, as características que as tornam de fato interessantes, além de assimilar aspectos toscos, indo cada vez mais pelo caminho fácil da ofensa gratuita. Uma boa explicação para a letargia atual dos humoristas de plantão: pensar dá trabalho.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Unidades Pacificadoras?



Tenho acompanhado as notícias sobre a ocupação da Favela da Rocinha (Rio de Janeiro) pelas UPPs (Unidade de Polícia Pacificadora), na chamada “Operação Choque de Paz”. A mesma que aconteceu meses atrás em outras favelas cariocas (Morro Santa Marta , Cidade de Deus, Jardim Batam , Babilônia e Chapéu Mangueira etc) expulsando chefes do trafico que residiam naquelas localidades e substituindo o domínio local. O objetivo das operações é ocupar total e permanentemente os morros para que os traficantes não tenham como retornar.
É fato: a vida dos moradores dos morros (cariocas ou não) nunca foi das mais fáceis. Resultado de anos de abandono do estado, que nunca se preocupou realmente em tornar as comunidades mais seguras para quem vive nelas, e tenho minhas dúvidas quanto à natureza dessa preocupação agora.
O mesmo estado que esteve e ainda está ausente em questões básicas como educação, saneamento básico, etc, agora tem que lidar de maneira desesperada com um problema que foge ao seu controle: o crime organizado, que tem alguns de seus representantes sediados nas favelas, e que passa a incomodar principalmente pelo fato de o raio de ação dos criminosos não se restringir às favelas. O problema da violência urbana gerada pelo tráfico atinge o asfalto, a classe média, familiares e amigos de quem detém o poder no país e é a partir daí que a questão passa a ser vista como problema de ordem pública, e não como uma situação isolada.
Algo precisava (e precisa ser feito) para deter o tráfico? Claro. Ninguém em sã consciência questionaria isso. Mas questiono as razões por trás das ações, por trás das UPPS. Elas irão realmente promover a paz? Elas foram criadas para beneficiar os moradores ou para impressionar os gringos durante a Copa do Mundo e as Olimpíadas?
E, sabendo do histórico conflituoso, pra não dizer extremamente violento, entre a polícia e a população economicamente menos favorecida, me pergunto o que de fato melhorou nas vidas desses moradores. Seria muito acreditar que essa polícia não é a mesma que estabeleceu ao longo das décadas uma relação truculenta e criminosa com grupos marginalizados (não confundir com marginais = criminosos). A mesma polícia que utiliza de violência desnecessária para lidar com meros trabalhadores, suspeitos a priori por fatores como a localização geográfica, a cor da pele, a conta bancária... tanto faz se é um ou outro fator isolado, mas, se todos coincidirem há na lógica policialesca uma séria possibilidade de o sujeito passar de suspeito à culpado. E o que dizer então do conhecido envolvimento de uma parcela da própria polícia com o tráfico de drogas? O poder não está apenas mudando de mãos?
Assistimos ao espetáculo televisivo da invasão ao Morro Santa Marta, à Cidade de Deus, à Favela da Rocinha, etc. A população (de fora das favelas, lógico) aplaudiu com a mesma empolgação de quem assiste a um filme holliwoodiano, legitimando a reação do estado ao crime organizado, que talvez fosse desnecessária se esse mesmo estado se fizesse presente em outros aspectos.
No que diz respeito à cobertura da grande imprensa, me parece que um lado muito importante da história não foi ouvido e, se foi, me parece que foi sub-valorizado: o lado dos moradores. O que eles acham? Com certeza estão felizes com a saída dos traficantes, mas a presença permanente da força de repressão do estado também não é incômoda? Saem homens armados e entram outros homens armados, e realmente não sei o que é pior para aquelas pessoas.
Há relatos vindos das favelas “pacificadas” abordando a relação de poder estabelecida entre as UPPs e os moradores, chegando ao ponto de os policiais impedirem os moradores de ouvirem suas musicas, coibindo manifestações culturais, calando inclusive vozes contrárias às suas presenças. Moradores descontentes têm protestado, insatisfeitos com a atual situação, protestos cuja repercussão não encontra eco na grande mídia, salvo veiculos independentes de menor alcance, mas importantes para apontar essa contradição.
Muitos diriam que esse é um “mal necessário”, mas as mudanças que precisam acontecer tem que ser mais profundas e de outra ordem. A Ocupação dos morros pelas tropas é um paliativo que "resolve" uma questão, por um tempo determinado, e cria a médio e longo prazo outro tipo de problema. As causas do crime, do tráfico são diversas e profundas e não é a ocupação armada que resolverá a questão. A restrição à liberdade também é um tipo de violência, que gera outras formas de violência.
Passadas as Olimpíadas e a Copa do Mundo o que acontecerá? Todo esse valor investido não poderia ser utilizado para melhorias concretas nas vidas dos moradores das vilas e favelas do Rio? O governador Sérgio Cabral (PMDB) agora é visto como herói, mas de quem e por quanto tempo?

domingo, 7 de agosto de 2011

Nada é impodível com Di Melo, O Imorível

Por Rogério Dias












Responsável por um dos mais cultuados discos da “Black music” brasileira, o pernambucano Roberto de Melo Santos, mais conhecido como Di Melo, volta aos palcos e estúdios após um misterioso afastamento de 35 anos, o que gerou os mais variados boatos, com versões que afirmavam até mesmo a morte do músico. Mais vivo do que nunca, Di Melo assume a alcunha de "O imorrível" e retorna com um pacote completo que inclui o relançamento do seu antológico (e ainda único) álbum, publicado originalmente pela EMI, em 1975, e um documentário que conta essa impressionante história.





Residindo atualmente em São Paulo, o cantor e compositor Di Melo acumulou em suas três décadas de reclusão, fãs de várias partes do mundo, mais de 400 canções e diversas especulações sobre o seu desaparecimento. Quando perguntado sobre a razão de ter lançado um único LP ele não titubeia. “Em algum momento da minha carreira o que eu queria fazer não estava sendo feito, e o que queriam me impor eu não queria aceitar, então eu meio que me esquivava”, conta, referindo-se, talvez, às pressões artísticas das gravadoras na época em que gravou o seu disco de estreia.

Mas outros fatores foram ainda mais determinantes para que Di Melo saísse de cena, “entre elas o fato de eu ter músicas estouradas nos discos do Vando e do Jair Rodrigues. O meu próprio disco tocava o tempo inteiro, saía de uma rádio e ia para a outra. Quando fui receber meus direitos autorais tinham apenas onze cruzeiros. A partir daí eu me desencantei. Não que eu estivesse focado apenas no dinheiro, mas era muita trabalheira pra absolutamente nada, então eu me senti como se estivesse assinando diploma pra otário”, lamenta. Apesar disso, o músico afirma que jamais se afastou das artes, com centenas de canções criadas e dois livros que, de acordo com ele, só não foram publicados devido à falta de patrocínio.



O Imorrível entre as dez maiores vozes do planeta
Corroborando o senso comum que diz que nossos artistas costumam ser mais valorizados lá fora, Di Melo conta sobre o seu disco, encontrado a venda na Holanda pelo valor de 700 Euros. Os amigos sempre o informavam sobre a popularidade de suas músicas em outros países, de como os DJs e colecionadores haviam”redescoberto” seus grandes sucessos. “Eu costumava brincar que conheci quatro cantores: Frank Sinatra, Pavarotti, Toni Beneth e eu (risos). Certa vez um amigo me ligou de Londres, às 8 horas da manhã, e me disse assim: ‘Di melo meu velho, saiu uma pesquisa apontando você como uma das dez melhores vozes da música mundial, mas é uma pena que você morreu em um acidente de moto, após ter gravado um único disco, épico, com os grandes músicos da música brasileira”, conta orgulhoso ao referir-se ao LP que conta com participações de nomes ilustres como o multi-instrumentista Hermeto Pascoal.




De todas as histórias, o boato a respeito do acidente de moto que teria tirado sua vida é o que mais se aproxima da verdade, a não ser pelo fato de que Di melo permanece vivo. De acordo com ele, o tal acidente foi grave e custou “fábulas” para que sua recuperação se completasse. Juntando isso ao seu afastamento do mercado fonográfico, vieram as várias versões sobre o que teria lhe acontecido, e a notícia mais recorrente dava conta do óbito do cantor. “Daí eu disse: morri e esqueceram de me avisar. Como eu já havia criado a frase ‘Nada é impodível com Di Melo..’ daí veio o ‘imorrível’, completa.



Próximos passos
Com energia renovada, Di Melo conta sobre a boa receptividade que vem recebendo por parte do público jovem e da imprensa especializada, além do aguardado documentário “Di Melo – O Imorrível”, resultado do trabalho realizado por Alan Oliveira e Rubens Pásaro. O filme aborda a carreira do cantor a partir dos pontos de vista de nomes como Simoninha, Nelson Motta e Charles Gavin. Alé do relançamento em CD do seu álbum, O Imorrível promete também novos discos mostrando um pouco do que ele tem feito nas últimas décadas. E quem viver, verá.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Mais ou menos...humanos?





Cada vez que ligo a TV, ou leio as manchetes, encontro situações que me surpreendem, tanto pelo grau da barbárie, quanto pelo nível de intolerância ainda existente, num mundo que muitos consideram evoluído.
Notícias de violência gratuita já são lugar comum na imprensa, como aquela que relatava a história de um pai e um filho que foram atacados durante um rodeio, porque foram confundidos com gays. Como se a opção sexual de alguém fosse justificativa pra esse tipo de violência.



O incrível é que para muitos essa é sim uma boa razão e os responsáveis, em sua maioria, não são os pobres, aqueles a quem normalmente são atribuídos os crimes violentos (vide Datena e similares). Os crimes de intolerância costumam vir dos “bem nascidos”, dos que tiveram acesso à educação, aos bens de consumo, e a um repertório cultural que, em tese, deveria fazer deles pessoas melhores. Ledo engano! Isso não aconteceu, e talvez as vantagens tenham dado a essas pessoas o falso senso de superioridade que as orienta a agir assim. Viver em um mundo dominado pelo preconceito e classificações que dividem o planeta entre os “mais ou menos” humanos, de acordo com critérios étnicos e culturais arbitrários é um desafio que tem crescido cada vez mais, principalmente porque, ao contrário da violência gerada pela pobreza e pela exclusão, essa não é gerada pela falta de oportunidades.



Não que uma seja melhor que a outra, mas a violência da qual estamos falando é mais difícil de ser combatida, porque vem justamente de uma certeza absoluta e cegante de que existe um padrão para a orientação sexual, para a cor, para o gênero, e consequentemente, em um nível mais extremo, existe o ódio como resposta a tudo que não se assemelhe ao “padrão”.


Recentemente assistimos atônitos ao atentado terrorista que vitimou várias pessoas na Noruega e, contrariando uma percepção preconceituosa e errônea, o ato não veio de nenhum muçulmano (como se o terrorismo fosse uma exclusividade deles, ou estivesse intrinsecamente ligado àquela cultura). O atentado veio de dentro e foi motivado pela mesma certeza de superioridade citada anteriormente. O atirador Anders Behring Breivik escreveu um manifesto no qual acusava a Europa de seguir um caminho semelhante ao do Brasil, no que refere-se à miscigenação e mistura de culturas, experiência que ele apontava como a responsável pelos “problemas” e atraso do país.


Essa visão estereotipada, capaz de atribuir mais ou menos humanidade a determinados grupos, fez com que outros garotos “bem nascidos” ateassem fogo ao índio pataxó Galdino Jesus dos Santos em Brasília, além de outros incontáveis crimes contra a vida. Quando entrevistados disseram que pensavam se tratar de um mendigo.


Mais uma vez o discurso demonstrou claramente a ausência de empatia e a total falta de humanidade, ou “excesso” dela, já que cada vez me convenço mais, salvo raras exceções, de que a espécie é realmente auto-destrutiva. No fim das contas, são as excessões que mantêm minha crença nas possibilidades de mudança.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Indignação




Ontem recebi uma notícia triste pelo facebook. Um texto que contava como o Alexandre de Sena, ator mineiro que estava em Blumenau a trabalho, foi covardemente espancado por policiais. Um detalhe: Alexandre é negro. Não que a truculência policial só atinja negros, mas a forma como ele foi abordado é uma demonstração típica de preconceito, tão naturalizado no Brasil que se torna quase imperceptível.

Alexandre estava esperando alguns amigos em um posto de conveniências quando o PM ordenou que ele se retirasse utilizando a frase”vaza negão”.
Ele educadamente (e corajosamente também) respondeu que não iria sair dali enquanto os amigos não terminassem suas compras e retrucou a forma desrespeitosa como foi abordado.


A resposta foi uma série de agressões injustificadas contra alguém que estava desarmado, não representava ameaça de espécie alguma e apenas exigiu o respeito que lhe era devido. O mesmo tratamento raramente seria dado a alguém que se encaixasse no estereótipo dos “dignos” de respeito. É o reflexo claro de um país que ainda se mostra intolerante em pleno século XXI. Racista, para ser mais exato, algo que não se reflete apenas nesse episódio mas em números estatísticos absurdos que melhoram muito pouco a cada ano.


Uma observação minha: conversei com o Alexandre em poucas oportunidades mas sei que se trata de uma pessoa de boa índole. Trata-se de alguém extremamente cortez, que em nenhum momento desacataria ou desrespeitaria qualquer outro indivíduo (independente da patente) mas, como fez muito bem, não se permitiria ser uma vítima gratuita do abuso dessa mesma autoridade.


Não atenua, mas ele é um caso especial, porque é um negro que pôde estudar, não é vítima, também, da invisibilidade social. E quanto aos vários que sofrem o mesmo tipo de abuso e não tem sequer as ferramentas para denunciar? Ou ainda, não conseguem perceber o quanto esses policiais estão errados, assim como o Fabiano de Vidas Secas, que não podia conceber que uma autoridade estaria errada ao lhe tratar daquela forma, tão violenta.


Alexandre pelo menos está entre os letrados, entre os que tem acesso à rede, entre os que conseguem notar as diferenças de tratamento que existem por traz da nossa sociedade miscigenada e tão “livre” de preconceitos. Fica a indignação. Mas ela basta? Muda algo?
Apenas ela não!

quarta-feira, 13 de julho de 2011

O adeus do Lapa Multshow





No dia 10 de julho, sábado, o Lapa Multshow, importante espaço da cultura musical de Belo Horizonte, encerrou suas atividades. Após mais de 14 anos e uma sériede shows realizados com artistas dos gêneros mais variados, a casa situada no bairro Santa Efigênia deixa de fazer parte das nossas opções de final de semana. Difícil é não se sentir um pouco órfão, principalmente se você, como eu, acompanha de perto o cenário cultura da cidade. O Lapa era mais um dos símbolos do que BH produz de melhor em termo de música, ao lado de lugares igualmente importantes como A obra, Matriz, Bordelo, etc e etc.

Quando, no início do ano, tivemos uma conversa com o Guilardo Veloso (responsável pelo Lapa) e ele nos contou sobre a “ordem de despejo” que havia recebido da imobiliária, começamos a imaginar formas de impedir aquilo. O Lapa iria deixar de ser “o Lapa” para se tornar um supermercado ou coisa que o valha. A cidade inteira sairia perdendo. Para mim, pessoalmente, a perda tinha um peso muito grande. Principalmente pelo fato de o Guilardo ter recebido minha banda para que realizássemos o show de lançamento do nosso primeiro CD, em um esquema de parceria que nós nem imaginávamos que fosse acontecer. E o mesmo foi feito com outros, colocando em primeiro plano, sempre, a relevância da proposta e não a sua capacidade de levar um número x ou y de público.

No fim das contas nos despedimos do Lapa Multshow, palco que recebeu vários artistas locais como Eminence, Renegado, Julgamento (nós), Transmissor, Capim Seco e Pedro Morais (só para citar alguns), e também nomes como Mundo Livre S/A, Nação Zumbi, Tulipa Ruiz, Lucas Santana e tantos outros.


Continuidade

Foi cogitada a possibilidade de solicitar o tombamento do lugar e logo depois pedir à prefeitura que o transformasse em uma espécie de centro cultural, gerenciado pela sociedade civil. A discussão foi levantada e levada adiante e, para surpresa geral, o objetivo foi alcançado.

O lugar que durante tantos anos foi o Lapa Mulsthow pode, de fato , continuar como espaço para a divulgação da pluralidade musical e cultural da cidade. Ainda não se pode afirmar como, quando e se isso irá mesmo acontecer, mas a proximidade das eleições foi um fator decisivo, na minha opinião, para que o prefeito apoiasse a causa, principalmente diante do desgaste das suas relações com o setor cultural.


Para todos os efeitos, o processo está em andamento. Resta saber se o imóvel, de fato, irá continuar como o lugar em que artistas de diversos segmentos se projetam para um público que, felizmente, têm procurado mais do que é oferecido nas FMs e canais de TV. Só o tempo dirá.


Em tempo, nosso muito obrigado a Guilardo, Vinícius e toda a equipe que fez do Lapa o que ele foi, um lugar que ficará na memória de quem o conheceu, com seus grandes shows e noites inesquecíveis.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Bin Laden e os presidentes norte-americanos



Osama Bin Laden, outrora o terrorista mais procurado do mundo, está morto (ou não).
É o assunto do momento em todos os meios de comunicação, de grandes jornais a blogs despretensiosos como este. Ironicamente os dois últimos presidentes norte americanos devem muito à Osama. Tanto o belicista (e fundamentalista) George “son” Bush, quanto Barack Obama.




Basta avaliar os dois contextos. George estava fadado a entrar pra história apenas como o segundo Bush a ocupar a Casa Branca e, claro, como o presidente norte americano com o menor QI até então, isso sem falar de sua fama como “trombadinha eleitoral”.
Sua sorte mudou com o famigerado ataque às Torres Gêmeas. Daquele dia em diante George Bush assumiu sua legítima vocação de Cowboy texano e passou a brincar de John Wayne com Bin Laden. A guerra deu ao governo Bush alguma relevância para o povo estadunidense.
Em um período dominado pelo medo e pelo ódio, saber que o seu presidente está apto para atirar primeiro e perguntar depois trazia um certo alívio para a população americana. Tanto que as pessoas, em sua maioria, nem questionaram a moralidade de” uma” Guantanamo.




O Caso de Obama parece seguir um paralelo semelhante. Eleito com euforia após o desastroso governo Bush, Obama foi recebido pelo mundo com entusiasmo. Simbolicamente, ele parecia romper toda a tradição política americana, tanto pelo fato de ser um homem negro, quanto por ser um democrata que aspirava a cadeira que há anos era ocupada pelos republicanos, com tendências mais conservadoras no contexto político americano.


Obama chegou à Casa Branca com um nível elevado de popularidade, o que não se manteve nos meses que se seguiram já que ele não conseguiu lidar com os problemas econômicos internos, como desemprego e preços altos de bens como a gasolina. Com claras intenções de se reeleger, Obama não contava com o apoio da maioria da população, até o anunciar a morte de Osama Bin Laden, principal nome da Al Qaeda até então.


Assim como seu antecessor, Bush, Obama pode ter sido beneficiado pela existência de Bin Laden, o que pode lhe garantir um segundo mandato. Com o ufanismo norte-americano mais aceso do que nunca, ele parece ter ganhado pontos consideráveis para a futura corrida presidencial. Só faltou mostrar o tal corpo do Osama.

domingo, 20 de março de 2011

Desafios da educação e da cultura


Pensar em educação e cultura implica, consequentemente, pensar em pessoas transformadas por estes bens. Vivemos em um país que, apesar do crescimento econômico e do inegável aumento do acesso ao curso superior, ainda sofre um alto nível de déficit educacional. Isso pode ser facilmente percebido na educação básica.

O atual modelo de ensino público têm enfrentado diversos problemas que vão dos baixos salários dos professores à baixa qualidade do ensino oferecido aos jovens, que terão que disputar (se conseguirem ao menos disputar) por um espaço no mercado de trabalho, sob supostas condições de igualdade, com quem pôde estudar nas escolas particulares e posteriormente nas boas universidades do país. Em suma, a luta continua desigual.


E aí vivemos a contradição perene: As escolas públicas não fornecem condições para que os jovens consigam ingressar nas universidades públicas e terão em sua maioria, que disputar as vagas nas faculdades particulares, o que ainda constitui um problema a ser resolvido, já que o ensino superior privado tende a ser ocupado justamente pelos que têm menos condições financeiras, isso sob perspectivas otimistas, contando com a possibilidade real de jovens pobres que consigam concluir o ensino fundamental e disputar uma vaga no ensino superior.

Do outro lado, as escolas privadas, com salários mais atraentes para professores e em condições de oferecer um ensino mais qualificado, preparam melhor seus alunos que são a maioria dos que ocupam cadeiras nas universidades públicas e nos cursos mais desejados (medicina, engenharia etc). Paradoxal, não? As atuais condições contribuem para que se perpetue o círculo vicioso, que exige das famílias, cujas condições econômicas ainda permanecem precárias, um esforço sobre-humano para superá-las.

As dificuldades em se tratar deste tema tornam-se ainda mais profundas, principalmente sob a ideologia do made-self man, que diz que há oportunidades iguais para todos e, portanto, cada indivíduo é responsável pelo próprio sucesso ou fracasso, em uma perspectiva individualista que ignora todo e qualquer contexto social e econômico e serve de suporte para as vendas crescentes dos livros de auto-ajuda, e transformam nomes como Lair Ribeiro em verdadeiros gurus modernos.

Neste quadro o acesso à cultura, aos livros, ao conhecimento é algo libertador. Para além das questões referentes à erradicação das disparidades sociais (onde a educação se mostrou um dos caminhos mais eficientes), a cultura permite aos indivíduos a possibilidade de escolha, de questionamento e afirmação de identidade. E, talvez, até mesmo de compreensão do “Outro”, embora isso nem sempre ocorra.

Arthur C Clarke, escritor de ficção científica falecido em 2008, conhecido principalmente por seu livro 2001: Uma Odisseia no Espaço, que foi adaptado para o cinema pelo diretor Stanley Kubrick, escreveu em um de seus livros lançados na década de sessenta (Perfis do Futuro), sobre uma espécie de biblioteca global, onde todo o conhecimento humano estaria acessível a todos. Não é preciso muito esforço para traduzir essa “previsão” e compreender que ele falava da internet, embora obviamente não soubesse disso.

O que Clarke não poderia “prever” é que as possibilidade quase ilimitadas de acesso não resultariam, necessariamente, em aumento de repertório cultural. Temos que lidar com outras questões mais amplas ainda, a exemplo de algumas mudanças de âmbito cultural, como o fato de nos tornarmos cada vez mais uma sociedade de imagens, com jovens que consomem menos livros e cada vez mais habituados a pílulas de informação, o que os distancia muitas vezes da possibilidade de pensamento crítico e reflexivo.

Trata-se do cenário perfeito para a apatia política e social, bem como a constituição do público ideal para as respostas fáceis fornecidas por aproveitadores religiosos e dos já citados livros de receita para o sucesso.

Apesar do aparente pessimismo deste texto, é perceptível o fato de que estamos avançando em muitos aspectos e que o horizonte parece ser muito mais promissor do que aquele que podíamos visualizar há cerca de uma década atrás, mas ainda há muito a ser feito, principalmente se considerarmos que nem todas as mudanças são para melhor e que, ao mesmo tempo, não existe a tal “situação ideal”, o que temos é a busca constante por melhores condições e lutas que resultam em alterações práticas, ora mais tímidas, ora mais perceptíveis. Educação e cultura são algumas das ferramentas básicas para que as transformações que almejamos se concretizem.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Um Novo Ciclo




Mais um ano se iniciando. Trata-se apenas de uma mudança de ciclo, um dia após o outro dia, mas a nossa cultura atribui a essa “simples” mudança um significado maior. Oportunidade de recomeço, de alcançar o sucesso onde falhamos anteriormente. Não deixa de ser verdade. Aquelas avaliações sobre o que fizemos de bom ou de ruim no ano anterior são inevitáveis e, até certo ponto, necessárias. Acho importante poder avaliar o tipo de pessoa que nos tornamos e qual direção estamos seguindo. Para mim, 2010 foi um ano de aprendizado, de auto-avaliação e, espero eu, de crescimento pessoal.

Pieguices a parte, a imagem de um velho amigo ainda ecoa em minha memória. Embora ele não tenha expressado isso com palavras, suas atitudes deixaram em mim a idéia fixa de que, se há algum objetivo, estamos aqui é para nos tornarmos o melhor que podemos ser, e passar isso adiante.

A humanidade, de maneira geral, parece se esforçar para atingir o objetivo contrário. Quando penso no quanto avançamos no que refere-se à conquista dos direitos humanos, ao respeito às diferenças me surpreendo com o quanto ainda somos imaturos para lidar com o outro, com a diversidade.

Em 2010 a imprensa foi inundada por relatos de ataques violentos e covardes orientados pela intolerância à opção sexual, ou mesmo crimes violentos contra a mulher. Em um mundo tão conectado, a informação torna-se uma faca de dois gumes que pode ajudar tanto a iluminar a história quanto a fortalecer mentes obscuras e retrógadas, a exemplo dos comentários racistas facilmente encontrados na rede em tempos de web 2.0. A internet torna-se o ambiente propício para que os preconceitos se manifestem, sem as censuras costumeiras do “mundo real”. Ao mesmo tempo, como uma espécie de equilíbrio da balança, me satisfaz observar momentos tão importantes como o atual, com uma mulher ocupando a presidência da República em uma sociedade ainda dominada por preceitos machistas.

Apesar de uma campanha eleitoral provinciana, onde aspectos religiosos ganharam importância desproporcional às propostas políticas e aos perfis dos partidos, o fato do ex-torneiro mecânico ter obtido sucesso onde outros falharam pesou positivamente a favor de Dilma Roussef. Juca Ferreira, por sua vez, deixa o Ministério da Cultura em uma situação privilegiada em relação a outros períodos da nossa história, encerrando com honra o trabalho iniciado por Gilberto Gil.

Ao falar de avaliação e retrospectiva é impossível não fazer um balanço, mesmo que superficial, dos oito anos da era Lula. Particularmente, me senti realizado com a sua posse em 2003. Fiquei frustrado com as avaliações rasas e preconceituosas que o apontavam como analfabeto e incapaz. Fiquei feliz quando presenciei o Pró-UNI dando acesso ao ensino superior a vários jovens pertencentes às camadas mais pobres, ação que repercutirá por gerações na história destas famílias. Eu mesmo fui beneficiado por este governo, embora tenha iniciado meus estudos antes do início e implementação do programa.

Vitória maior ver o Luiz Inácio retornar a São Bernardo do Campo com um índice de aprovação de 80%. Tão alto que a oposição tem que medir as palavras para criticar o seu governo, sob pena de tornar-se impopular diante do eleitorado. Nem a Vênus Platinada ou a Veja ousariam criticá-lo com a mesma virulência de outros tempos.
Mas é assim mesmo que caminhamos, individual ou coletivamente, com avanços e retrocessos, retrocessos e avanços. Novo ano, novo ciclo. 2011 abre a nova década com um sabor diferente, com a promessa de tempos mais otimistas.