Falar de relações raciais no Brasil sempre constituiu um tabu principalmente pela forma como essas relações foram construídas ao longo dos tempos.O processo de escravidão, e a cultura que se estabeleceu graças a ele, deixou marcas profundas que repercutem ainda hoje. Uma das razões para o aprofundamento do preconceito velado no Brasil é o fato de que a história relegou ao negro o papel de figura passiva, mera mão de obra escrava e, até pouquíssimo tempo, os livros didáticos ensinavam que o negro foi escravizado porque se adaptava melhor à situação de trabalho forçado, coisa que não aconteceu com os povos indígenas. Maior absurdo é que este tipo de impropério era ensinado como se fosse coisa séria. A difusão de idéias como essa colaborou para que uma imagem menor do negro enquanto indivíduo fosse construída ao longo da história, e ajudou inclusive para que se firmasse uma idéia de incompetência em relação aos afro-descendentes. Este e outros fatores ajudam a entender as razões que levaram os negros desenvolverem uma baixa auto-estima em relação á própria etnia, o que não é de se surpreender. Obviamente este perfil vêm sendo alterado principalmente entre os que tiveram acesso à educação formal e outros que encontraram formas alternativas de construção de suas identidades. Aliás, outras formas de construção de identidade vêm em primeiro lugar, como as provenientes de movimentos como o hip-hop e a convivência em outros grupos intimamente ligados à cultura afro-brasileira tais como congado, capoeira e outros, todos eles capazes de conferir ao indivíduo uma fator identificador alternativo aos meios de comunicação. O fato é que a influência do negro na cultura nacional recebeu um lugar de pouca importância em nossa história, isso quando aspectos culturais dos povos africanos não foram sistematicamente demonizadas e marginalizadas como no caso de manifestações religiosas como o Candomblé.
Há uma grande dificuldade em confrontar tais afirmações com a opinião vigente, principalmente porque vivemos o eterno mito da “democracia racial”. O país em que as raças "se irmanam" e convivem na "mais completa harmonia" e com igualdade de oportunidades, esconde um racismo velado, o que o torna mais difícil de ser combatido. Importante lembrar que a disparidade em termos de oportunidades não é apenas de cunho social e econômico. Não por acaso a dificuldade de acesso possui um perfil racial bem definido.
O Brasil é o país fora do continente africano que possui o maior número de afro-descendentes, sendo que estes constituem cerca de 45% da população brasileira e os mesmos constituem 64% da população mais pobre e 69% do total de indigentes. Importante lembrar que estes 45% da população brasileira não encontram representação, nem de longe, equivalente nos meios de comunicação ou nos cargos considerados de maior prestígio.O IDH – Indice de Desenvolvimento Humano – que mede a qualidade de vida das populações baseado em itens como alfabetização, riqueza e expectativa de vida – se mostrou alto no último relatório da ONU referente ao Brasil, entretanto o IDH da população negra manteve-se baixo, embora tenha apresentado um crescimento considerável se comparado ao relatório anterior.
Embora os avanços recentes tenham sido notáveis, eles ainda apresentam números tímidos mas vale ressaltar que algumas medidas importantes têm sido adotadas. Uma delas é a questão das ações afirmativas, a velha história das cotas para negros e indígenas. Independente das opiniões contrárias, elas cumprem um papel que é primordial para mim. Pela primeira vez em muito tempo a questão racial foi discutida a sério na esfera pública, nos debates em programas de tv, nas universidades e nas ruas o que evidenciava que havia algo de muito errado em nosso país “livre de preconceitos”, a polêmica gerada pela adoção da medida contribuiu para que o tabu fosse deixado de lado e a discussão viesse à tona. Um dos grandes passos recentes foi a inclusão do ensino da cultura afro-brasileira nas escolas. O acesso a uma disciplina como essa ajuda na formação de uma visão mais ampla de cultura por parte dos alunos. A matéria entrou oficialmente no currículo das escolas a partir de 2003, resta saber se existem profissionais capacitados em número o suficiente para suprir a demanda. Em todo caso já é um alívio saber que perceberam a necessidade de se levantar este tipo de discussão. A lei em questão reza que seriam incluídos estudos sobre a história da África, luta dos negros no Brasil e o papel do negro na formação da identidade nacional.
Acho que ainda há muito o que conquistar mas é um passo importante para que os negros brasileiros sejam vistos como indivíduos que ajudaram a construir a visão de mundo de todo um povo e não apenas como figuras passivas cuja maior contribuição foi a mão de obra escrava.
Um comentário:
Obrigado por intiresnuyu iformatsiyu
Postar um comentário