Músico versátil da cena paulista, Curumin fez por merecer os elogios ao seu segundo trabalho. Lançado pelo selo YB Music, Japan Pop Show mostra influências nítidas e diversas, que vão do hip-hop, black music, dub e o mais escancarado funk carioca, ou Miami Bass, se preferirem.
O disco consegue traduzir tudo isso de forma homogênea e fluida sem causar aquela sensação de “opa! Isso não deveria estar aí”. O fato é que Curumin não parece nem um pouco preocupado em se encaixar “neste” ou “naquele” estilo, o que é ótimo, e reúne tudo aquilo que gosta em seu trabalho.
A música de abertura, com o curioso título “Salto no vácuo com joelhada” traz o som de uma daquelas velhas e tradicionais “caixinhas de música”, que aos poucos se mescla às batidas pesadas, lembrando as bases clássicas do Wu tang. O que vêm a seguir é a ótima “Dançando no escuro” com a participação especial do mestre Marku Ribas, sempre impressionante em suas interpretações. Curumin, por sua vez, fez de tudo. Programou a MPC, tocou bateria, baixo e teclado, resultando numa das melhores faixas deste disco.
“Compacto”, já virou hit por aqui e é a primeira vez que ouvimos (neste disco) o multi-instrumentista Curumin cantando (já na terceira faixa). Melódica, tranqüila e com um dos refrões mais pegajosos do disco (no bom sentido) ela foge um pouco do clima da maioria das músicas do álbum, que soa experimental em muitos aspectos, enquanto esta se mantém ancorada num funk brazuca tipo Jorge Ben, competente sem soar pretenciosa.
“Kyoto”, em clima de alerta ecológico, a música conta com as participações dos rappers Blackalicious e Lateef the Thruthspeaker em boas performances, até o Curumin arriscou algumas rimas e mostrou que tem habilidade pra coisa. “Japan Pop Show”, traz um clima de surf music à já complexa salada musical do Curumin, tem pra todos os gostos.
Na sequência a belíssima “Mistério Stéreo”, mais uma prova da versatilidade e riqueza de recursos do músico.
Outra que já entrou fácil para a lista das mais cantadas (pelo menos deste disco) é “Mal estar Card”, bem conhecida pela genial frase “cadê minha fatia de filé? O osso é duro de roer...”Letra ácida e crítica que questiona a disparidade de oportunidades, tão comum em nosso país.
Outra que já entrou fácil para a lista das mais cantadas (pelo menos deste disco) é “Mal estar Card”, bem conhecida pela genial frase “cadê minha fatia de filé? O osso é duro de roer...”Letra ácida e crítica que questiona a disparidade de oportunidades, tão comum em nosso país.
“Caixa Preta” conta com a participação do onipresente B Negão, divertida e dançante bem ao estilo do funk carioca, mas, lógico, sem descambar para a futilidade e o sexismo que popularizou o estilo. “Sambito (Totaru Shock)”. Seria uma espécie de samba de japonês com música eletrônica, inclusive cantado no idioma da terra do sol. Fechando o álbum “Esperança” e “Fu Manchu”, esta última com programações do Daniel Ganjaman, do Instituto, só para frisar, embora as faixas programadas pelo próprio Curumin não percam em nada para esta.
Definir em poucas palavras o trabalho deste cantor, rapper, baterista e beatmaker, entre outras coisas, é impossível e classificá-lo mais ainda (como se fosse realmente necessário algum tipo de rótulo). Vale dizer que o trabalho não é dado de forma gratuita ao ouvinte e se torna melhor ainda a cada nova audição.