Persépolis, de Marjane Satrapi, é um dos mais instigantes livros que tive o prazer de ler. A história, autobiográfica, relata a trajetória da jovem nascida no Irã no final dos anos sessenta, o que deu a ela a possibilidade de viver sob um sistema político laico, situação que mudou em 1979 com a ascensão do governo xiita e o conseqüente fundamentalismo religioso que tomou conta daquele país. A partir daí somos levados a viver, através dos olhos de Marjane Satrapi, todo o drama relativo à perda crescente dos direitos individuais, características presentes em qualquer sistema totalitário.
O romance vai de encontro aos nossos preconceitos ocidentais, invalidando a visão limitada de que o oriente é o “lar dos homens-bomba”, dos “fanáticos religiosos” e das mulheres oprimidas e conformadas com todo uma tradição machista e retrógrada. A história de Sartrapi mostra o abismo existente entre “a imagem” construída pelos meios de comunicação e a realidade vivida por muitos iranianos.
A autora do livro é bisneta do imperador iraniano, deposto após o golpe que levou o Xá Rezah ao poder, sucedido pelo filho numa das ditaduras mais sangrentas da história. Educada em uma família moderna e com fortes convicções de esquerda, Marjane estava distante das convenções sociais rígidas que a obrigaram a usar o véu islâmico aos dez anos de idade.
Suas condições financeiras e sociais privilegiadas deram a ela a possibilidade de estudar na Europa e conhecer outras formas de convívio, ao mesmo tempo aprendeu que o ocidente também possui os seus fundamentalismos, religiosos ou não. Formada em Belas Artes a autora escolheu a arte seqüencial para contar a história, resultando naquilo que Will Eisner (o grande mestre dos quadrinhos) chamaria de uma perfeita combinação entre “imagem e prosa”.
Persépoles é uma leitura deliciosa e instrutiva, conseguindo manter o difícil equilíbrio entre a denúncia contra o autoritarismo e o preconceito, e o texto agradável que fala de incertezas inerentes às nossas escolhas pessoais. A obra foi premiada em 2004 com o prêmio de Melhor Hitsória em Quadrinhos na Feira de Frankfurt em 2004.
Traduzido para vários países, o livro ganhou o cinema através da adaptação animada de mesmo nome em 2007.
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