Mais um ano se iniciando. Trata-se apenas de uma mudança de ciclo, um dia após o outro dia, mas a nossa cultura atribui a essa “simples” mudança um significado maior. Oportunidade de recomeço, de alcançar o sucesso onde falhamos anteriormente. Não deixa de ser verdade. Aquelas avaliações sobre o que fizemos de bom ou de ruim no ano anterior são inevitáveis e, até certo ponto, necessárias. Acho importante poder avaliar o tipo de pessoa que nos tornamos e qual direção estamos seguindo. Para mim, 2010 foi um ano de aprendizado, de auto-avaliação e, espero eu, de crescimento pessoal.
Pieguices a parte, a imagem de um velho amigo ainda ecoa em minha memória. Embora ele não tenha expressado isso com palavras, suas atitudes deixaram em mim a idéia fixa de que, se há algum objetivo, estamos aqui é para nos tornarmos o melhor que podemos ser, e passar isso adiante.
A humanidade, de maneira geral, parece se esforçar para atingir o objetivo contrário. Quando penso no quanto avançamos no que refere-se à conquista dos direitos humanos, ao respeito às diferenças me surpreendo com o quanto ainda somos imaturos para lidar com o outro, com a diversidade.
Em 2010 a imprensa foi inundada por relatos de ataques violentos e covardes orientados pela intolerância à opção sexual, ou mesmo crimes violentos contra a mulher. Em um mundo tão conectado, a informação torna-se uma faca de dois gumes que pode ajudar tanto a iluminar a história quanto a fortalecer mentes obscuras e retrógadas, a exemplo dos comentários racistas facilmente encontrados na rede em tempos de web 2.0. A internet torna-se o ambiente propício para que os preconceitos se manifestem, sem as censuras costumeiras do “mundo real”. Ao mesmo tempo, como uma espécie de equilíbrio da balança, me satisfaz observar momentos tão importantes como o atual, com uma mulher ocupando a presidência da República em uma sociedade ainda dominada por preceitos machistas.
Apesar de uma campanha eleitoral provinciana, onde aspectos religiosos ganharam importância desproporcional às propostas políticas e aos perfis dos partidos, o fato do ex-torneiro mecânico ter obtido sucesso onde outros falharam pesou positivamente a favor de Dilma Roussef. Juca Ferreira, por sua vez, deixa o Ministério da Cultura em uma situação privilegiada em relação a outros períodos da nossa história, encerrando com honra o trabalho iniciado por Gilberto Gil.
Ao falar de avaliação e retrospectiva é impossível não fazer um balanço, mesmo que superficial, dos oito anos da era Lula. Particularmente, me senti realizado com a sua posse em 2003. Fiquei frustrado com as avaliações rasas e preconceituosas que o apontavam como analfabeto e incapaz. Fiquei feliz quando presenciei o Pró-UNI dando acesso ao ensino superior a vários jovens pertencentes às camadas mais pobres, ação que repercutirá por gerações na história destas famílias. Eu mesmo fui beneficiado por este governo, embora tenha iniciado meus estudos antes do início e implementação do programa.
Vitória maior ver o Luiz Inácio retornar a São Bernardo do Campo com um índice de aprovação de 80%. Tão alto que a oposição tem que medir as palavras para criticar o seu governo, sob pena de tornar-se impopular diante do eleitorado. Nem a Vênus Platinada ou a Veja ousariam criticá-lo com a mesma virulência de outros tempos.
Mas é assim mesmo que caminhamos, individual ou coletivamente, com avanços e retrocessos, retrocessos e avanços. Novo ano, novo ciclo. 2011 abre a nova década com um sabor diferente, com a promessa de tempos mais otimistas.
Mas é assim mesmo que caminhamos, individual ou coletivamente, com avanços e retrocessos, retrocessos e avanços. Novo ano, novo ciclo. 2011 abre a nova década com um sabor diferente, com a promessa de tempos mais otimistas.