Minha dificuldade em rir de determinadas piadas tem crescido consideravelmente. Pensei se o problema não seria o meu senso de humor e cheguei à conclusão de que, ou ele não é tão apurado, ou a definição de “piada” da grande maioria anda um tanto distorcida. Definitivamente, não consigo compreender o humor por trás das ditas piadas que desmerecem crenças religiosas minoritárias (candomblé, etc), de teor homofóbico, machista ou mesmo as tais “piadinhas” racistas, com as quais tive que conviver ao longo da vida e sempre ouvindo que não passavam de meras brincadeiras, portanto eu não deveria me importar.
E está aí o grande mérito dessas formas “inocentes” de disseminar o preconceito: são apenas “brincadeiras”. Tão inocentes que, na minha infância as tais piadas eram lugar comum na programação televisiva, refletindo de maneira ainda mais aberta uma cultura fascistoide e retrógada.
E, se avançamos, pelo menos no aspecto de a TV não se permitir mais algumas aberrações tão explícitas (apenas algumas, porque há uma lista infindável delas), ainda contamos com uma cultura extremamente conservadora e que não permite a presença do “outro”, aquele que difere em aspectos filosóficos, no gênero, na opção religiosa, sexual ou até mesmo no direito de não pertencer a nenhuma religião.
Ironicamente, nos orgulhamos da liberdade existente no mundo ocidental (em contra-ponto à opressão do oriente médio – como se aqui ela não existisse), mas nos mostramos tão fundamentalistas quanto aqueles a quem costumamos taxar de “atrasados”.
Quanto às piadas, elas têm perdido, pelo mau uso, as características que as tornam de fato interessantes, além de assimilar aspectos toscos, indo cada vez mais pelo caminho fácil da ofensa gratuita. Uma boa explicação para a letargia atual dos humoristas de plantão: pensar dá trabalho.