domingo, 12 de agosto de 2012

O debate em torno da administração Lacerda



Bater na administração Lacerda (PSB) virou lugar comum, principalmente entre a classe artística de Belo Horizonte. O “Fora Lacerda” ganhou força através das redes sociais e ecoou, desfazendo a idéia tão divulgada de unanimidade em relação à aprovação da gestão do Prefeito, eleito através do que chamam de aliança “ornitorrinco”, dado o grau de estranheza: a impensável chapa PT e PSDB (!!!)

De fato o nível de aprovação de Lacerda entre a maior parte da população belohorizontina não é baixo, mas ao mesmo tempo me ocorre que a população brasileira como um todo desenvolveu um olhar preguiçoso sobre a política e nem temos uma base cultural fortalecida o suficiente, que possa favorecer qualquer análise mais criteriosa em relação aos nossos governantes. 
Conceitos como respeito à cidadania, liberdade de expressão, ainda soam vazios, alienígenas até, o que nos torna pouco exigentes. Basta um político não se envolver em escândalos de corrupção para que seja considerado “um bom político”. Talvez seja esse o caso do prefeito. Daí, não é de se estranhar que um político que fira qualquer um dos princípios citados não incomode uma boa parcela da população. O grau de alienação em relação a tais conceitos é tão grande que a “falta” deles não causa comoção, até porque falamos de um povo que nunca teve acesso real a tudo isso.

O caso da prefeitura é emblemático. Desde o início de sua gestão, Márcio Lacerda demonstrou pouca capacidade de diálogo, principalmente com o setor cultural (músicos, produtores, diretores de teatro, atores...), além de evidenciar um olhar equivocado de que a cidade poderia funcionar como uma empresa, onde é possível simplesmente demitir ou falar mais alto que os descontentes, como ficou evidente em uma reunião em que o prefeito se desentendeu com um dos recém empossados Conselheiros Municipais de  Cultura, e ordenou, sem cerimônia, que ele fosse retirado da sala. 

 Mais recentemente ele voltou a ser alvo de críticas com os seus “abrigos anti-mendigos”.  A imagem que se espalhou rapidamente pelas redes sociais (elas novamente) revelava que  pedras pontiagudas foram colocadas por debaixo de um determinado viaduto da cidade, com o objetivo de impedir que os "indigentes " se abrigassem no local. A prefeitura se manifestou dizendo que as pedras tinham o intuito de coibir a ocupação irregular, por se tratar de um lugar que oferece risco à vida, devido à possibilidade de alagamento.   Digamos que a preocupação seja realmente genuína. Ainda assim a forma é equivocada e não demonstra o menor indício de empatia ou vontade de levar "melhorias" a quem quer que seja. É, no mínimo, um "tiro no pé" em termos de marketing político.
Será que esse dinheiro não seria melhor aproveitado de outra maneira? Talvez numa tentativa realmente eficaz de devolver a dignidade ou amenizar o sofrimento dessas pessoas. 

De qualquer forma, a imagem em questão é estarrecedora. E mais assustador foi ver as manifestações on line que demonstravam um evidente repúdio aos moradores de rua. Há quem concorde e prefira a opção fácil de eliminar a “feiura” causada por quem vive tão à margem que sequer chega a ser uma preocupação quando medidas assim são tomadas. Uma máxima dos dias atuais é que “quem não consome não é gente”. Idem para quem não vota, ou para grupos cujo poder de decisão política se mostra inexpressivo.

Em uma matéria publicada pelo Jornal Hoje em Dia, Lacerda diz que pretende lidar com as manifestações de rua (protestos, passeatas e afins) disponibilizando 4 policiais para cada manifestante. Resquício da ditadura militar? Enfim, Belo Horizonte reflete um jeito brasileiro de se fazer política que se mostrava acanhado e perdeu a vergonha nos últimos anos: aquele em que vale a lei da mordaça e da restrição dos direitos individuais em favor da "ordem pública".