Uma das primeiras coisas que se
aprende na faculdade de comunicação é que a mídia não muda opiniões já
arraigadas na sociedade, mas influência na medida em que pode dar maior ou
menor visibilidade a determinadas tendências e demandas. Claro que isso não
exime os meios de comunicação da sua parcela de responsabilidade, uma vez que a
afirmação acima pode servir como desculpa para a reprodução irresponsável de
preconceitos, e não há inocência nisso.
O beijo do final da novela “Amor à vida” é um
exemplo feliz da contribuição dos meios de comunicação no debate de temas
púbicos. Muito antes de entrar no mérito da qualidade narrativa das produções -
salientando que a novela em questão é um dos melhores produtos da
teledramaturgia nacional dos últimos anos – vale lembrar que a representação da
diversidade cultural, social e étnica nos meios midiáticos é de grande
importância para afirmação e aceitação das identidades. A ausência ou a representação estereotipada
das minorias (negros, mulheres, gays,
pobres...) nos veículos de massa serve apenas para reafirmar o lugar
desprivilegiado já ocupado por estes grupos, bem como para a continuidade dos
efeitos nefastos dessa exclusão. Antes
mesmo de ser uma iniciativa da TV, o beijo homoafetivo em “Amor à Vida” aponta
para a mudança na mentalidade de uma parcela significativa da população.
Me lembrei do primeiro beijo inter-racial na TV, protagonizado por Kirk e Ohura na série Star Trek, na América racista dos turbulentos anos 60. A comparação com o que foi realizado na novela global não é descabida.
O preconceito continua, mas um passo
importante foi dado. Faltam outros tantos, como um número de atores negros nas
TVs correspondente ao percentual de afrodescendentes no Brasil, representações
cada vez menos caricatas das chamadas minorias e, por fim, comemoração válida
mesmo será no dia em que essas reivindicações se tornarem desnecessárias.
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