A essa altura o episódio em que o jogador Daniel Alves foi
hostilizado por um torcedor que lhe arremessou uma banana já é notícia velha. Mais
uma dessas manifestações racistas imbecis, que são muito mais um indício de
pouco desenvolvimento mental do sujeito do que de “maldade” propriamente dita. Alves
foi rápido na reação, ao comer a banana e marcar o gol contra o time do
agressor. O que se segue é algo que
extrapola (negativamente) a própria reação do jogador, com manifestações de "apoio" que, se de um
lado apontam uma certa intolerância torta ao racismo (pelo menos no futebol, porque
no cotidiano ele passa totalmente batido), do outro apresenta um raciocínio geral
limitado em relação a todo um processo de redução, desumanização da população
negra no país.
Quando vi várias pessoas, entre anônimos e “celebridades”
compartilhando a hashtag #SomosTodosMacacos fiquei curioso pra saber de onde
veio, e se já me causava uma reação negativa natural isso aumentou quando soube da ideia publicitária por traz
de tudo. Mais ainda quando vi Luciano Huck fortalecendo a pseudo campanha anti-racismo, que mais revela e fortalece o preconceito que qualquer outra coisa.
Compartilhei a indignação no meu perfil do facebook, já esperando os ataques
uma vez que o absurdo parecia ser um consenso, até por contar com a assinatura
do Neymar. Supreendentemente tive apoios com os quais não contava. O post traduz o
sentimento melhor que qualquer explicação que eu possa dar agora e tenho dito:
#NinguémAquiÉmacaco
A campanha do "todos
somos macacos" é uma criação publicitária travestida de movimento, e
equivocado ainda por cima.
A ideia "brilhante" (Só Que Não) foi
desenvolvida pelo publicitário Guga Ketzer, com a intenção de "tirar a
força da palavra do agressor preconceituoso".
Despolitizar a questão vai na contra-mão de todo
um processo de luta de negros e negras contra a pecha estigmatizante do
"macaco". O xingamento em questão sempre
foi usado com o objetivo de desumanizar, reduzir quem já foi espoliado das mais
diversas formas.
Pra quem não sabe o que é isso na pele
(literalmente) ou se porta como mico domesticado aderindo a qualquer coisa sem
reflexão, é muito fácil adotar o sorriso blasé de "gente bonita e
descolada" pegando carona no ato do Daniel Alves (que tem outro contexto).
Na prática a parada toda acaba reforçando o discurso da turma do deixa disso,
de que preconceitos e afins são culpa do discriminado. Aquela coisa repugnante
de se ouvir e ler:"o maior racista é o próprio negro".
Gol contra, Neymar. Prefiro ficar como antipático
(assumido), sem esportiva a compartilhar a tal hashtag. Não sou macaco, muito
menos amestrado por campanhas idiotizantes.