Liguei a TV numa manhã, não me
lembro o dia, e o jornal mostrava cenas de um homem chamado Natanael em seus
últimos momentos de vida. Acuado, o homem negro que aparentava ter entre 27 e
30 anos tentava se desvencilhar de um policial militar armado que não pretendia
apenas prendê-lo. Natanael não tinha nada nas mãos e queria se entregar, se
isso fosse possível. Desesperado ele
repetia “vou morrer, você vai me matar”.
O que veio a seguir foi um estampido, seco, precedido do silêncio.
O vídeo foi feito por um celular
e ajudou e desmentir a versão do BO que dizia que Natanael havia trocado tiros
com os policiais. Não me inteirei sobre o restante da história, não sei quem
era o homem chamado Natanael, só sei que vi uma execução e fiquei péssimo com
aquilo, de uma forma que não consegui descrever nem para mim mesmo. Vi um homem
acuado, num jogo de gato e rato, alguém que engrossou as estatísticas às quais
pertencem DGs, Cláudias e Amarildos Brasil afora, desde muito tempo. Me senti pequeno como nunca me senti antes,
impotente como jamais poderia imaginar, porque ali não havia nada que alguém
pudesse fazer, o fato estava no passado,
morbidamente registrado talvez pra nada, porque Natanael não foi a primeira e nem última vítima deste tipo de violência, fato
recorrente nas áreas mais pobres, contra os mesmos grupos e, quase sempre, perpetrada
por agentes do estado.
Neste dia não engoli o choro, não
deu, não quis. Também não posso e não
quero fingir que nada aconteceu. Natanael, seja quem for, deixou mulher, pais e
filhos. E se nada for feito, ele
continuará sendo apenas mais um número numa estatística triste, que se repete
ano após ano, década após década, na qual pobres, oriundos das periferias
brasileiras, são as principais vítimas da violência urbana.
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