Nestes dias de demonstrações
públicas de intolerância, preconceito e muita desinformação, fica patente (mais
ainda) o nosso despreparo gritante em lidar com as diferenças. Me assustei muito com a dificuldade de compreensão
e a leitura limitada de mundo, e isso vindo de gente jovem e supostamente “esclarecida”,
numa época em que o conhecimento está
mais acessível do que nunca. Atribuíram
a “ignorância” e a “desinformação” ao povo nordestino, devido à escolha feita
por eles durante o primeiro turno das eleições, quando a maioria dos votos foi
para Dilma Rousseff, mas foi nas regiões desenvolvidas economicamente que vi,
li e ouvi as manifestações mais assustadoras e violentas, partindo justamente
dos mesmos que desqualificaram de forma tão vil a escolha dos nordestinos. A violência
que tem se propagado nestes dias é tanto física quanto verbal. Coisas
inacreditáveis trazendo à tona as piores e mais retrógradas facetas da “humanidade”.
Em suma: isso denota qualquer coisa, menos “esclarecimento”.
Independente dos rumos a serem
seguidos daqui em diante, sofremos, a priori,
uma derrota que não depende do resultado das urnas. Imaginava que estávamos em
um determinado patamar de civilidade e tolerância, mas me enganei. E o problema
tem raízes mais profundas que a mera falta de acesso à educação formal. Não é o
caso e as agressões, mesmo que muitas vezes se restrinjam ao campo do simbólico,
não têm partido dos grupos social e historicamente marginalizados.
Está claro que somos uma
sociedade míope e ensimesmada cujo olhar, salvo raras exceções, tem se mostrado
incapaz de ir além dos limites do próprio umbigo, com preconceitos velados há
séculos e que agora se mostram escancarados, ainda que dissimulados. E seguimos
assim, norteados não pelos direitos coletivos ou indignados com a privação do
outro, mas pelo viés mais mesquinho no qual os “meus” e os “seus” direitos estão
em primeiro lugar e se transformam em privilégios na medida em que a
preocupação primeira não é torná-los acessíveis a todos. Se não conseguimos nos conectar e nos
transformamos em uma sociedade em que apenas o espelho é tolerável, nós já
perdemos.