Pobreza por si só é violenta, porque exclui. Esse é um ponto. Mas não é a pobreza que causa a violência urbana, como muita gente pensa, é a desigualdade. Parece obvio, né?
Lembro de uma entrevista do Gilberto Dimenstein em que ele abordava o tema e citava países miseráveis como a Índia, onde o índice de violência era bem menor do que aqui. Motivo? Em poucos lugares do mundo o contraste social é tão gritante. Sobe o Morro do Papagaio pra ver. A linha que separa os barracos dos casarões é nula, a discrepância de oportunidades entre quem tem e quem não tem é gritante.
Na minha adolescência eu lembro de amigos que falavam em "roubar o tênis do boy" e havia muito ressentimento naquela fala, raiva mesmo. Porque não importava o quanto trabalhassem, eles não poderiam nunca ter o símbolo de status que estava ao alcance de quem morava no "asfalto" e que era oferecido pra eles, pra gente, da mesma forma. O Brasil mudou. O "tênis" e alguns outros símbolos de status não eram mais um problema, ainda assim continuávamos uma das piores distribuições de renda do mundo.
Alguém do outro lado não entendeu a equação, e reclamou de programas de distribuição que contribuíam para a redução dessa desigualdade violenta que gera violência. Devido a uma série de fatores as preces de quem queria dar fim a isso foram atendidas.Burrice. Com a iminente redução de direitos, redução de acessos, acirrando ainda mais as diferenças, eu não vejo uma realidade boa pra ninguém. É um contexto violento dos dois lados, mas eu sei muito bem quem perde mais nisso tudo.