É hora de juntar os cacos de uma
democracia que agora só existe na ideia.
A participação popular na escolha do chefe de Estado, suspensa desde 64,
retornou em 1985, mas só se efetivou de fato em 1989 e amadurecemos desde então.
Até ela, com pouco mais de três décadas, ser interrompida novamente na noite de
11 de maio de 2016. O que houve não é qualquer coisa. Quem apoiou essa
arbitrariedade de forma irresponsável contribuiu para o surgimento de um
precedente muito perigoso. Os políticos aprenderam que, numa democracia imatura
tudo é possível e que eles podem comandar o jogo a seu bel prazer. Para quem
acha que é exagero de quem compara esse período com o de 1964, basta ver a
postura arrogante do judiciário, a patrulha ideológica que já se iniciou nas
universidades e escolas, impedindo estudantes de debaterem o atual momento e
professores impedidos de dar suas opiniões porque querem que prevaleça uma
determinada versão da história, como foi antes. Temo pelo futuro deste País,
temo ter voltado à época em que quem é como eu, preto, favelado e sem bens,
tinha o subemprego como futuro certo se tivesse sorte. Temer conta agora com a
aliança de sujeitos como Malafaia, conhecido por seu fundamentalismo e
preconceito. A perseguição contra as religiões de matriz africana, que nunca
cessou, deve aumentar agora.
Quem agora
comemora a repressão à esquerda não percebe que essa mesma violência pode atingi-lo
amanhã se quiser protestar contra o governo que agora está aí ou contra
qualquer coisa que o incomode dentro do atual status quo e que não fez mais nada além de mostrar que o voto é
algo para não ser respeitado, não importa se é seu ou se é meu. Nossa luta
agora é por um Brasil onde não prevaleça a ignorância e o obscurantismo, onde a
voz conquistada por mulheres, negros, pobres, LGBTs, quilombolas e indígenas
seja respeitada. Uma coisa é fato: daqui não saímos, não saímos da militância nas ruas nem das
redes.
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