domingo, 8 de novembro de 2009

This is it – Um tributo à altura da genialidade de Jackson



O Filme This is it, como todos sabem, é um registro dos ensaios da turnê que seria realizada em Londres e marcaria o retorno de Michael Jackson aos palcos, após uma década de reclusão.
Assisti ao longa em uma sessão repleta de garotos que perguntavam, insistente e repetidamente “quando vai começar o filme?” (e isso quando estávamos na metade da exibição).
Com certeza não sabiam que se trata de um documentário que registra, nada mais, nada menos, que os últimos momentos do trabalho de Michael Jackson, o que pode ser muito decepcionante para quem espera ver alguma especulação sobre a vida pessoal do “Rei do Pop”.

O filme começa com alguns depoimentos dos dançarinos do espetáculo, que relatam o quanto o trabalho do astro foi fundamental para a escolha de suas carreiras.
Jackson aparece fisicamente frágil no vídeo, mas apenas fisicamente. É fácil perceber o quanto ele mantinha o domínio sobre o que fazia de melhor. Como um verdadeiro maestro, ele dirige cada membro da equipe, desde dançarinos, técnicos e músicos, sendo perfeccionista mas sem ser arrogante em nenhum instante sequer.


Em seus últimos registros audio-visuais M.J (Como é chamado pelos colegas de espetáculo) continua performático e causa impacto pelo simples poder de sua presença, algo perceptível pelas reações esboçadas pelos dançarinos que contracenavam com ele.
Mas não espere ver o mesmo vigor dos tempos de “Thriller”: São registros de ensaios, então Jackson não está preocupado em exibir o máximo de sua performance como dançarino e sim em mostrar ao elenco o que ele quer exatamente para o espetáculo, e isso ele faz muito bem! Há momentos (vários) em que se compreende nitidamente porque ele se tornou um dos maiores artistas do nosso tempo. Momentos marcantes como quando ele canta a música Man in the mirror, numa verdadeira aula de interpretação vocal, ou em Smooth Criminal, onde podemos ver sua energia intacta, num clima de cinema noir, com exibição do vídeo gravado especialmente para essa música.

Vale o preço do ingresso ver os últimos momentos nos palcos deste que considero um verdadeiro gênio do entretenimento, produto de um tempo que dificilmente voltará a se repetir.

Mesmo sabendo que o legado de Michael Jackson vai muito além de “This is it”, o filme desperta uma sensação de melancolia ao vermos o quanto este retorno aos palcos seria grandioso e, por forças alem do controle de qualquer mortal, acabou não se concretizando.
De qualquer forma, o filme engrandece Michael como artista e é este o foco, sem nenhuma referência à sua vida particular ou mesmo ao que ocasionou sua morte. This is it!

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Persépolis



Persépolis, de Marjane Satrapi, é um dos mais instigantes livros que tive o prazer de ler. A história, autobiográfica, relata a trajetória da jovem nascida no Irã no final dos anos sessenta, o que deu a ela a possibilidade de viver sob um sistema político laico, situação que mudou em 1979 com a ascensão do governo xiita e o conseqüente fundamentalismo religioso que tomou conta daquele país. A partir daí somos levados a viver, através dos olhos de Marjane Satrapi, todo o drama relativo à perda crescente dos direitos individuais, características presentes em qualquer sistema totalitário.

O romance vai de encontro aos nossos preconceitos ocidentais, invalidando a visão limitada de que o oriente é o “lar dos homens-bomba”, dos “fanáticos religiosos” e das mulheres oprimidas e conformadas com todo uma tradição machista e retrógrada. A história de Sartrapi mostra o abismo existente entre “a imagem” construída pelos meios de comunicação e a realidade vivida por muitos iranianos.

A autora do livro é bisneta do imperador iraniano, deposto após o golpe que levou o Xá Rezah ao poder, sucedido pelo filho numa das ditaduras mais sangrentas da história. Educada em uma família moderna e com fortes convicções de esquerda, Marjane estava distante das convenções sociais rígidas que a obrigaram a usar o véu islâmico aos dez anos de idade.

Suas condições financeiras e sociais privilegiadas deram a ela a possibilidade de estudar na Europa e conhecer outras formas de convívio, ao mesmo tempo aprendeu que o ocidente também possui os seus fundamentalismos, religiosos ou não. Formada em Belas Artes a autora escolheu a arte seqüencial para contar a história, resultando naquilo que Will Eisner (o grande mestre dos quadrinhos) chamaria de uma perfeita combinação entre “imagem e prosa”.

Persépoles é uma leitura deliciosa e instrutiva, conseguindo manter o difícil equilíbrio entre a denúncia contra o autoritarismo e o preconceito, e o texto agradável que fala de incertezas inerentes às nossas escolhas pessoais. A obra foi premiada em 2004 com o prêmio de Melhor Hitsória em Quadrinhos na Feira de Frankfurt em 2004.

Traduzido para vários países, o livro ganhou o cinema através da adaptação animada de mesmo nome em 2007.

domingo, 18 de outubro de 2009

As idiossincrasias do edifício de Will Eisner



Will Eisner (1917- 2005) é um dos mais importantes nomes dos quadrinhos de todos os tempos, responsável (ao lado de outros autores) por conferir aos gibis o status de arte autônoma, ao criar o conceito de Graphic Novel em 1978 com sua obra “A contract with god”. Daquele momento em diante os quadrinhos iniciavam sua jornada rumo a caminhos que levariam à criação de obras primas como Watchmen, de Alan Moore e Dave Gibbons (1985) e Dark Knight, de Frank Miller e Klaus Janson (1986).

Eisner se tornou um mestre em contar histórias fantásticas mas de um ponto de vista cotidiano, com as características humanas como foco central, a exemplo de sua criação mais conhecida, o personagem Spirit.

“O edifício”, quadrinho escrito e desenhado por Eisner em 1987, é uma metáfora sobre a própria vida. A existência de um determinado edifício situado em Nova York se mescla às trajetórias de quatro indivíduos.
O enredo nos leva a vivenciar os dramas, desilusões e anseios de personagens extremamente críveis e tridimensionais, pessoas comuns, que ganham contornos poéticos sob o lápis e imaginação de Eisner.

Monroe Mensh, um típico cidadão novayorquino, Gilda Green, uma bela mulher, Antonio Tonatti, um talentoso violonista e P.J Hammond um milionário. Personagens trágicos, cuja única característica em comum é o fato de suas histórias estarem irremediavelmente ligadas ao edifício, o local onde toda a trama se desenrola.

É neste momento, quando somos apresentados aos “heróis”, que entra o elemento fantástico da história: são quatro fantasmas, mas todo surrealismo se encerra por aí. O que vêm a seguir são enredos tocantes, que nos fazem pensar sobre as limitações inerentes ao próprio percurso da vida, nossos sucessos, anseios e fracassos.

Após ler essa obra é difícil não olhar para cada constructo de concreto da cidade e imaginar as histórias que fizeram e fazem parte da existências destes espaços, como o próprio Will Eisner disse no prefácio da Graphic Novel:

Agora estou certo de que essas estruturas marcadas por risos e manchadas por lágrimas são mais do que edifícios inertes. É impossível pensar que, ao fazerem parte da vida, não tenham absorvido as radiações provenientes da interação humana. Eu me pergunto sobre o que resta depois que um prédio é demolido.” Will Eisner - 1987

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Em terra de cego



Visão nublada pela própria certeza
Na clareza de raciocínio reside o obscuro
Universo em preto e branco, ou colorido de artifícios

Impressão falsa de realidade
Mito da caverna contemporâneo
Que ninguém ouse olhar para trás

O pensamento jaz nas mãos do guru televisivo
No ápice do bem-estar econômico, sofá ergonômico
Sucesso na conta bancária,cuide bem da arcada dentária
Que ninguém ouse questionar o que é certo. Seja lá o que for.

domingo, 9 de agosto de 2009

Somar? Pra quem?



Hoje (domingo - 09 de agosto), ao assistir o Programa Alto Falante, apresentado pelo jornalista e parceiro Terence Machado, vi a entrevista de um rapper chamado Bugaloo (acho que é assim mesmo a grafia).


Nada pessoal, só algumas observações: Primeiro o sujeito contou que se tornou rapper por não cantar rock muito bem !!!??? Sem comentários.
Depois disse que veio de São Paulo (ou algo assim) pra "somar" ao rap belohorizontino.
Beleza, a casa agradece e todo apoio é bem-vindo. Mas aí o tal rapper disse que a cena em Belo Horizonte é fraca e se colocou como o “salvador da lavoura”. Engraçado se não fosse trágico. Trágico porque alguém que não tem a menor ligação com a história da cena local e, obviamente não conhece nada do que foi e é realizado aqui vai à TV pra soltar suas impressões mal formadas.
"A cena é fraca" comparada com o quê, baseado em quê? Ele nem mesmo foi capaz de citar qualquer coisa realizada aqui. No mínimo só ouviu falar das tais festas "rap" feitas por gente que só conhece os 50 cents, ou qualquer coisa assim.


Em sua compreensível limitação ele só conseguiu dizer que Belo Horizonte está bem representada pelo Renegado. E, de fato, está. Mas vai além disto. Com certeza ele não conhece o Retrato Radical e seus vinte anos de estrada, ou Dokttor Bhu & Shabê, Rima Sambada e tantos outros que realmente constroem a cena na capital mineira.

Sem a menor intenção de pegar no pé de ninguém mas, caro amigo, antes de ir à qualquer veículo e se pronunciar sobre alguma cena cultural procure se informar direito para não dizer coisas sem nexo. Não é um vídeo-clipe caro que vai fazer de você a grande vitrine daqui. É necessário estrada e vivência.

Ah sim, a cena hip-hop de Belo Horizonte vai muito bem, obrigado. O Duelo de mcs que o diga.
Abraço!

terça-feira, 14 de julho de 2009

Paralaxe: Under Pop Pulp Fiction




Imagine um trabalho musical recheado de referências, que vão desde os quadrinhos norte americanos, seriados de heróis japoneses, desenhos animados, aos personagens que permeiam o nosso imaginário cotidiano, como a “Loira do Bonfim”. Difícil? Mas não inconcebível. Resumindo, mal e toscamente, isso é Paralaxe. Para quem perdeu este que, na minha opinião, é um dos mais importantes e singulares trabalhos do cenário independente, fica a dica.

O primeiro disco deste trio composto por Fredhc (voz, letras e arranjos), Rafael Carneiro (guitarra) e VJ Impar (inserção de imagens) saiu em 2005 com o título de “Paralaxe”, e já indicava as particularidades que definiriam o trabalho do grupo. O álbum trazia um clima meio retrô, com vocal em clima oitentista, mas com uma roupagem que mesclava rock e elementos eletrônicos. Havia algo de New Order com Kraftwerk.

As letras já traziam metáforas bem sacadas como a ótima “Dr Gory Versus Spectreman”. A referência não fica tão clara aqui, mas Spectreman foi um seriado produzido no Japão no final dos anos 70, com produção capenga, mas com histórias interessantes. O herói enlatado enfrentava o vilão Dr Gory. A música do Paralaxe usa os personagens para criar uma espécie de alegoria em que Spectreman é Carlos Marighela (guerrilheiro durante os anos de ditadura no Brasil) e seu algoz, Dr Gory é o general Golbery do Couto e Silva, uma das figuras mais importantes do regime militar brasileiro (1964 – 1985). Veja um trecho da letra:

“Spectreman subversivo, alvo do alto comando, tinha um aparelho em Goiás e um míssil lituano,um esconderijo no Uruguai era amigo do Jânio fazia um Guevara-Style de charuto cubano”

Mas, o primeiro disco, apesar de bem feito, é apenas um ensaio para o que estava por vir. Under Pop Pulp Fiction saiu exatamente um ano depois e surpreendeu. O disco tinha muito mais qualidade sonora e apresentava um Paralaxe mais experimental e ousado. Não havia, de forma alguma, a sensação de que o trio estava se procurando, tateando terrenos na tentativa de achar um norte definitivo, como aconteceu no primeiro trabalho.

As guitarras de Rafael Carneiro estão mais encorpadas e encontraram o equilíbrio perfeito com os samplers. A primeira faixa “Li no Linux o Celton”, deixa isso bem claro. Totalmente rock, com riffs bem marcados, e em harmonia com os beats criados por Fredhc. Não dá para deixar de comentar o título da música. Fantástico. Uma homenagem clara à cultura undergrownd. Embora todos saibam o que é o Linux, o contraponto open source do Windows, nem todos conhecem Celton. Trata-se do personagem de quadrinhos criado pelo belo-horizontino Lacarmélio Alfeu. O cara ficou conhecido por vender as revistas que ele mesmo produzia rodando pela cidade com a sua moto, e conseguiu sobreviver da própria arte. Mais independente impossível! De volta à música, essa faixa conta ainda com trechos de fala do próprio Lacarmélio explicando “quem é” o seu personagem Celton.

“Bin Laden é Bruce Wayne”, outra das metáforas amalucadas e geniais de Fredhc. Segundo ele, a associação é óbvia pelo fato de ambos morarem em cavernas, serem milionários e combaterem o mal, de acordo com seus pontos de vista. Boa música e talvez uma das mais assimiláveis de todo o CD. Outra curiosidade, a faixa se inicia com a fala de Adam West e Burt Ward (respectivamente Batman e Robin) na abertura do seriado debochado dos anos 60.

“Catch a Rising Star” é uma verdadeira ópera, não pela estática sonora, mas por ser uma faixa de 7 minutos (!!!) que conta – sem refrão – a história de uma aluna da Guignard que resolve ganhar o mundo. A música não é cansativa em momento algum. Aqui, as guitarras estão mais sutis, na maior parte do tempo, criando a ambientação para o enredo. Não dá para falar de todo o universo que é abordado no disco, tarefa quase impossível ou extensa demais, mas outras faixas também merecem atenção como “O Home azul de OA”, “A hora e a vez de Augusto Matraga”, e o repeteco do primeiro disco, a impagável “Dr Gory vs Spectreman”.

O disco, como deu para notar, é um verdadeiro caldeirão de referências da cultura pop e underground, o que explica o título da obra. O ouvinte não precisa, necessariamente conhecer tudo o que é usado no disco, ou mesmo ser uma espécie de nerd para apreciar a audição. Claro que as pessoas que sacarem vão se divertir mais a cada citação percebida, mas o importante aqui é a música que está muito bem feita por sinal.

Outro detalhe importante. A parte gráfica deste CD está mais bem cuidada, o que, principalmente no caso do Paralaxe, é primordial. Os shows utilizam imagens inseridas pelo Vj Impar que dialogam perfeitamente com as músicas, é um trabalho audiovisual, na falta de melhor definição. O encarte, desta vez, tenta trazer esse universo estético. Enquanto você acompanha as letras pode ver figuras muito legais como o um dos cartazes de “O dia em que a terra parou” (o filme clássico, de 1952), alguns dos monstros de látex, oriundos diretamente dos seriados japoneses, entre outras. É arte para os olhos também. É um álbum diferente de qualquer coisa já ouvida no cenário nacional e pode causar tanto estranheza em alguns, quanto afinidade em outros, mas ninguém poderá acusá-los de falta de originalidade.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

O fim de uma era


Pensar em Michael Jackson significa pensar automaticamente, em música pop, já que a vida do astro se confunde com a evolução da indústria fonográfica. A repentina morte do músico no dia 25 de junho de 2009 encerrou um ciclo de sucesso, escândalos e controvérsias. Mas de tudo isso o que fica realmente é o trabalho de Michael Jackson e tudo o que ele significa para a música no mundo inteiro. Medir a importância deste ícone não é tarefa das mais fáceis. Jackson pertence ao panteão de artistas influentes do século XX, ao lado de nomes como Ray Charles, Elvis Presley, James Brown, Frank Sinatra, Rolling Stones, Madonna, Beatles e alguns poucos outros. Mas Jackson tinha algo mais, uma luz própria que o diferenciava. Para quem é afeito a números, basta dizer que o álbum Thriller (1982), produzido pelo mago Quincy Jones, é, ainda hoje, o mais vendido da história. Cerca de 104 milhões de cópias no mundo inteiro.


Michael é produto de uma era que não existe mais, devido, entre outras coisas, às mudanças sofridas pela indústria fonográfica nos últimos anos. Jackson é fruto de um tempo em que astros pop não eram meros produtos fast food, era possível construir uma carreira sólida e duradoura, embora não fosse tão mais fácil.


A longevidade do sucesso de Michael Jackson se deve também ao seu carisma e por reunir qualidades de um grande artista em uma única persona. Além de cantor, o homem era bailarino, coreógrafo e ator. No auge de sua carreira, na década de 80, a simples menção de seu nome remetia à algo incomensurável, titânico até.
Não se tratava simplesmente de um cantor de sucesso, de um astro, ou mesmo um ícone. Tratava-se de Michael Jackson. E essa talvez fosse uma das grandes diferenças entre este e os demais grandes artistas da música, não havia adjetivos que fossem explicativos o suficiente para descrever quem ou “o que” ele era.


Não é exagero dizer que a figura do astro fez parte das vidas de muita gente. Eu cresci vendo e revendo seus clipes, ouvindo e cantarolando suas músicas, mesmo que em inglês “embromation”, e como quase todo garoto da minha época, eu queria crescer para ser Michael Jackson. Ou pelo menos dançar como ele. Nem preciso dizer que passei longe disso.
As conquistas do astro não foram poucas e ele soube usar o vídeo como ninguém, desde os clipes, que ajudaram a construir o mito em torno de sua figura, até suas aparições em programas de TV. Como sua apresentação no aniversário da Motown em 1984, mostrando diante dos olhos incrédulos da platéia e dos telespectadores o seu Moonwalker, passo de break dance em que ele parecia estar caminhando para frente mas, inexplicavelmente, se movendo para trás.


O tamanho de sua influência? Vejamos, Jackson deu lições importantes para a música pop como um todo, influenciou artistas dos mais variados, da black music ás sofríveis "boybands", os passos de break usados por ele ajudaram a fomentar as fagulhas do hip-hop mundo afora. O artista conseguiu mesclar em seu trabalho elementos da Soul Music, R&B e Rock tudo numa roupagem pop. Em seus 50 anos de vida o músico alterou radicalmente a música nas mais diversas culturas do planeta.


Os escândalos, especulações sobre a sua sexualidade ou mesmo os comentários sobre as suas bruscas e constantes mudanças de aparência, não conseguiram reduzir seu brilho e importância.
No fim das contas, Michael era mesmo o que deu título a um de seus últimos álbuns. “Invencible”.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Sobre a obrigatoriedade do diploma de jornalismo...



Conseguiram derrubar a obrigatoriedade do diploma de jornalismo. A decisão saiu dia 17 de junho de 2009, por 8 votos a 1. A alegação de Gilmar Mendes, relator do processo, é que o diploma limita a liberdade de expressão, como se os cidadãos realmente interessados estivessem impedidos de se expressar através dos meios de comunicação. No final das contas a decisão só serviu para causar comoção, desgaste e, na minha humilde opinião, há assuntos mais urgentes a serem discutidos, como a redução dos benefícios dos políticos profissionais, que recebem muito por tão pouco (com todo respeito aos que trabalham).

No continente europeu e nos Estados Unidos não existe a obrigatoriedade do diploma, é fato. Apesar disto, as empresas dão preferência aos profissionais formados por acreditarem que estes se encontram mais capacitados para o exercício sério da profissão. A discussão acerca do assunto gera opiniões extremas. De um lado, aqueles que acreditam que alguém que não tenha passado pela faculdade de jornalismo encontra-se totalmente incapacitado para exercer a função e, do outro, aqueles que defendem que qualquer um pode fazê-lo. Nem tanto ao céu, nem tanto ao inferno.

Claro que podem surgir indivíduos, sem a formação em jornalismo, mas podem fazer tão bem ou melhor que muitos jornalistas habilitados, caso de grandes nomes como Carlos Heitor Cony (formado em filosofia mas aprendeu a prática nas redações), por exemplo.
É importante lembrar, no entanto, que estes casos são exceções raríssimas. Teriam que nascer muitos “Carlos Heitor Cony” para dar conta da demanda jornalística e substituir profissionais formados. Não existem normas específicas da profissão e um código de ética à toa. A decisão do Supremo Tribunal de Justiça foi um deboche claro de quem vê a produção da informação como coisa secundária.

Como Alberto Dinnes disse tão bem no site Observatório da Imprensa, a obrigatoriedade do diploma nunca serviu de obstáculo para que outros cidadãos exercessem o direito à produção de informação, mas garantia a qualidade deste que é um bem de toda a sociedade. O Jornalismo sempre enfrentou problemas, é verdade. Desde a lei da mordaça utilizada por alguns como forma de tentar nos inibir, seja através de ameaças de demissões (via os mais diversos tipos de lobbyes), seja pela censura explícita de determinados veículos. Apesar disso havia ao menos a certeza de que estávamos lidando com profissionais prontos para aquelas situações, para apurar e levar a informação mais próxima da realidade quanto possível.

Apesar da decisão do STF, que para mim é um enorme retrocesso, pouca coisa deve mudar. A função não será dada a qualquer um que ache que pode, é necessário mérito, não mero “achismo”. Lidar com informação, traduzir o mundo de forma que as pessoas compreendam o emaranhado de coisas que acontece à nossa volta não é tarefa das mais fáceis. No entanto, se alguém, sem diploma de jornalismo, se mostrar digno da alcunha, que seja. Necessário frisar, mais uma vez, que bom jornalismo vai além de boa escrita e boa dicção. Acrescentandoi: base teórica é necessária sim, ao contrário do que alguns acreditam.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Curumin e seu Japan Pop Show


Músico versátil da cena paulista, Curumin fez por merecer os elogios ao seu segundo trabalho. Lançado pelo selo YB Music, Japan Pop Show mostra influências nítidas e diversas, que vão do hip-hop, black music, dub e o mais escancarado funk carioca, ou Miami Bass, se preferirem.

O disco consegue traduzir tudo isso de forma homogênea e fluida sem causar aquela sensação de “opa! Isso não deveria estar aí”. O fato é que Curumin não parece nem um pouco preocupado em se encaixar “neste” ou “naquele” estilo, o que é ótimo, e reúne tudo aquilo que gosta em seu trabalho.


A música de abertura, com o curioso título “Salto no vácuo com joelhada” traz o som de uma daquelas velhas e tradicionais “caixinhas de música”, que aos poucos se mescla às batidas pesadas, lembrando as bases clássicas do Wu tang. O que vêm a seguir é a ótima “Dançando no escuro” com a participação especial do mestre Marku Ribas, sempre impressionante em suas interpretações. Curumin, por sua vez, fez de tudo. Programou a MPC, tocou bateria, baixo e teclado, resultando numa das melhores faixas deste disco.

“Compacto”, já virou hit por aqui e é a primeira vez que ouvimos (neste disco) o multi-instrumentista Curumin cantando (já na terceira faixa). Melódica, tranqüila e com um dos refrões mais pegajosos do disco (no bom sentido) ela foge um pouco do clima da maioria das músicas do álbum, que soa experimental em muitos aspectos, enquanto esta se mantém ancorada num funk brazuca tipo Jorge Ben, competente sem soar pretenciosa.

“Kyoto”, em clima de alerta ecológico, a música conta com as participações dos rappers Blackalicious e Lateef the Thruthspeaker em boas performances, até o Curumin arriscou algumas rimas e mostrou que tem habilidade pra coisa. “Japan Pop Show”, traz um clima de surf music à já complexa salada musical do Curumin, tem pra todos os gostos.
Na sequência a belíssima “Mistério Stéreo”, mais uma prova da versatilidade e riqueza de recursos do músico.
Outra que já entrou fácil para a lista das mais cantadas (pelo menos deste disco) é “Mal estar Card”, bem conhecida pela genial frase “cadê minha fatia de filé? O osso é duro de roer...”Letra ácida e crítica que questiona a disparidade de oportunidades, tão comum em nosso país.

“Caixa Preta” conta com a participação do onipresente B Negão, divertida e dançante bem ao estilo do funk carioca, mas, lógico, sem descambar para a futilidade e o sexismo que popularizou o estilo. “Sambito (Totaru Shock)”. Seria uma espécie de samba de japonês com música eletrônica, inclusive cantado no idioma da terra do sol. Fechando o álbum “Esperança” e “Fu Manchu”, esta última com programações do Daniel Ganjaman, do Instituto, só para frisar, embora as faixas programadas pelo próprio Curumin não percam em nada para esta.

Definir em poucas palavras o trabalho deste cantor, rapper, baterista e beatmaker, entre outras coisas, é impossível e classificá-lo mais ainda (como se fosse realmente necessário algum tipo de rótulo). Vale dizer que o trabalho não é dado de forma gratuita ao ouvinte e se torna melhor ainda a cada nova audição.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Sob a sombra do Wu-Tang Clan e 36 Chambers




Considerado um dos mais emblemáticos grupos de rap dos últimos tempos, o Wu Tang Clan é responsável por quebrar alguns paradigmas do estilo e divide opiniões até hoje. Simplesmente não há meio termo, ou se gosta muito do que eles fizeram, ou se odeia completamente. Mas é inegável o fato de que este grupo novaiorquino composto por 9 mcs (!!!) é uma das maiores e mais importantes referências do hip-hop mundial.

O grupo é encabeçado por RZA (líder e produtor do projeto), acompanhado por Old Dirty Bastard –O.D.B- (falecido em 2004), Method Man (o mais carismático dos Wu Tangs), Ghost Face Killa, Inspectah Deck, U -God, Raekwon, Cappadonna e GZA.

O disco de estréia Enter the Wu-Tang (36 Chambers) -1993- foi um contra-ponto interessante num período dominado pelo rap super-produzido de Los Angeles, representado por nomes como Snoop Dogg e seu então recém lançado Doggystile (1993), álbum de estréia do rapper , e Doctor Dre com seu “The Chronic” (1992). Dre é considerado por muitos como o “Midas” do gênero por revelar, além de Snoop Dogg, outros caça-níqueis da indústria fonográfica como Eminem e 50 Cent.

O Wu Tang trazia em 36 Chambers outra proposta estética, bem mais simples, com samplers crus inaugurando a era do efeito loop “descarado” nas bases de rap, ou seja, samplers propositalmente repetitivos, deixando toda a atenção voltada para as levadas e versos dos rappers.

No geral o som apresentava um aspecto mais rústico, mas o que a primeira vista pode parecer falta de recursos é algo proposital, como o próprio RZA explicou posteriormente, e essa estética se tornou uma das principais marcas do grupo que mostrava bons mcs em ótimas performances, abordando assuntos ligados às comunidades negras norte-americanas.

Se por um lado o Wu Tang estava longe da ostentação do rap produzido em Los Angeles (a velha história de carros e mulheres), também não apresentava a sofisticação do discurso politizado do Public Enemy. RZA e seus “asseclas” estavam mais voltados para as ruas com um discurso tão direto quanto o seu som.

Obviamente isso não diz muito sobre o que é este disco ou mesmo o fenômeno que se tornou o Wu Tang Clan. O grupo é tão icônico que chega a ser quase uma religião, com seguidores no mundo inteiro. Para entender melhor este universo é necessário observar as referências que deram origem ao trabalho.

Além de tentar trazer de volta o espírito do hip-hop do início dos anos 80 o grupo tinha como inspiração os tradicionais filmes setentistas de Kung-fu, tanto que o nome “Wu Tang” é inspirado em um destes filmes “B”. O próprio título do cd “36 Chambers” (36 salas) é uma alusão a um destes enlatados, que conta a história em que os monges do Wu Tang têm que atravessar as 36 câmaras do templo Shaolin.

Tais referências foram importantes, principalmente para RZA que, não por acaso, se tornaria responsável pela trilha sonora dos filmes Kill Bill Vol 1 e Volume 2, dirigidos por Quentin Tarantino e estrelados por Uma Thurman.

Voltando ao 36 Chambers, o disco está recheado de efeitos sonoros tirados diretamente dos filmes clássicos de artes marciais dos anos 70, além de falas (da dublagem em inglês, é claro) constantemente encontradas nos interlúdios e introduções das músicas. Até mesmo trechos das trilhas sonoras foram utilizados na construção das bases.

É difícil eleger quais as melhores faixas deste álbum, mas, para apontar algumas, segue a lista: CREAM, a música é trilha sonora clássica para qualquer um que tenha acompanhado o rap norte americano dos últimos 15 anos. Shame on a Nigga, faixa funkeada, uma das melhores na minha opinião, que só por reunir ODB, Method Man e Ghost Face Killa já vale o tempo de audição.

Clan In da Front exemplo de base repetitiva, sem grandes variações sonoras, que, como eu havia dito, tornou-se uma das marcas do grupo. Outra que não pode ser esquecida é a fantástica Method Man, interpretada pelo próprio Method, onde ele já mostrava as qualidades que o definiriam posteriormente como o principal nome do Clan, como o carisma citado anteriormente, a ótima performance vocal e a genialidade de suas rimas.

36 Chambers é considerado por muitos como o melhor dos 5 álbuns lançados pelo Wu Tang, posição disputada pelo segundo disco, Wu Tang Forever (1997).

De qualquer forma o trabalho é quase uma unanimidade e é, de longe, um dos melhores discos da história fonográfica do hip-hop. O que não quer dizer que indivíduos pouco habituados ao estilo vão gostar logo de início, mas é um bom lugar pra começar, principalmente para entender o mito por trás do Clan. Fica a dica.

domingo, 26 de abril de 2009

Gabriel Contino, o homem que eles amam odiar


O ano era 1993, a palavra “rap” era desconhecida da maior parte do público brasileiro. Apesar de nomes como a dupla paulista Thaide & Dj Hum terem iniciado o processo com a primeira música do gênero executada em FM`s ainda em 1988, a popularização do estilo acabou ficando sob a responsabilidade de um garoto carioca de classe média chamado Gabriel Contino.


Filho da assessora de imprensa da campanha de Fernando Collor de Melo, Belisa Ribeiro, Gabriel cresceu ouvindo Bob Marley, e em certa altura da vida se viu fortemente influenciado por ícones como Run DMC e Beastie Boys, o que fez com que ele se interessasse pelo hip-hop. Conheceu a cultura com o sucesso estrondoso do álbum Thriller do Michael Jackson, que usava muito do impacto visual dos passos de break dance, e depois com o filme Beat Street, que apresentava as quatro artes básicas do hip-hop (rap, break, Dj, grafite).


A música que levaria Contino ao mainstream (de uma forma meio indireta) foi gravada em 1992, no estúdio de um amigo, com poucos recursos, e satirizava a morte (fictícia, claro) do então presidente Collor. A música “Hoje eu to feliz: matei o presidente“ foi censurada pelo ministério da justiça, o que só serviu para aguçar a curiosidade das pessoas quanto ao trabalho do rapper.


Como resultado, Gabriel foi o primeiro rapper da história do Brasil a assinar contrato com um grande selo. O disco de estréia levava o nome adotado pelo rapper: “Gabriel O Pensador” e foi lançado pelo selo Chaos/ Sony Music, que também foi responsável pelos discos do Planet Hemp. O sucesso foi imediato, a música Retrato de um Playboy, que ironizava o modo de vida de uma parcela da classe média brasileira, caiu rapidamente no gosto popular. Irônia ou não, os playboys criticados por Gabriel eram alguns de seus maiores ouvintes.


Outra faixa do disco de estréia de Gabriel que merece destaque é a música lôraburra, que têm seu principal mérito por ter apresentado ao país um certo grupo paulista que se tornaria ícone do rap nacional. Estou falando do Racionais Mcs, cuja música “mulheres vulgares”, do disco de estréia “Holocausto Urbano”, foi sampleada por Gabriel, com direito a citação e tudo: “...e como dizem os Racionais: Mulheres vulgares uma noite e nada mais

Não por acaso, o Racionais teve seu terceiro disco, “Raio X do Brasil” (Zimbabwe- 1993), distribuído pela Warner, e duas músicas amplamente executadas nas rádios comerciais, “Fim de semana no parque” e “ O homem na estrada”. O fato do disco do rapper carioca ter tido uma aceitação acima da média fez com que outras gravadoras enxergassem o rap como um investimento interessante. Apesar do sucesso com o público leigo (ou talvez por causa dele) Gabriel foi hostilizado por uma grande parcela dos ouvintes habituais de hip-hop.
No território paulista, que na época era o mais conhecido reduto dos rappers brasileiros, o Pensador foi visto com desconfiança.
O trabalho foi produzido com competência por Fábio Fonseca, que buscou facetas, até então, inexploradas no rap brazuca, como a mistura de ritmos nordestinos, a exemplo da faixa “E você?”. Gabriel, por sua vez, usava e abusava de boas levadas, críticas inteligentes e bem sacadas, dialogando com as mais diversas camadas sociais, tanto que conseguia porItálico em pauta assuntos que eram (e ainda são) verdadeiros tabus, como a questão do racismo no Brasil.


Se o trabalho reunia todos estes adjetivos, porque a rejeição por parte da comunidade mais ligada ao rap? É preciso analisar o contexto daquele período. Primeiro, a postura bem-humorada de Gabriel, apesar das críticas ácidas, não era algo tão comum entre os rappers brasileiros, a figura do gangsta rap estava em alta neste período. Outro fator a ser considerado é a postura anti-mídia por parte da moçada do hip-hop, muito vigente naqueles tempos. E Gabriel fazia o caminho inverso, indo em programas globais e contracenando com astros do mainstream. Claro que os tempos mudaram (e as mentalidades também), então gente como Xis e Marcelo D2 pôde fazer o mesmo, sendo ainda menos politizados e sem o apedrejamento sofrido pelo Pensador durante os anos 90.

Da mesma forma, o fato de possuir um trabalho com abordagem mais ampla, tratando de assuntos que não estavam ligados especificamente às periferias (e nem poderia ser diferente), pode ter dificultado a sua identificação junto àquele público, muito habituado a ver na figura do rapper um autêntico representante das necessidades de determinada comunidade.

O que não se pode negar é o fato de que o trabalho de Gabriel o Pensador foi essencial para o desenvolvimento e popularização do rap nacional. Sem dúvida, o primeiro artista do gênero a dialogar com os mais diversos públicos, além de servir de inspiração inicial para uma infinidade de rappers, dentre os quais eu me incluo.

A carreira do Pensador continuou (e ainda continua), 6 discos depois, alguns bons, outros totalmente esquecíveis, na minha humilde opinião, o que não reduz a importância da obra do sujeito.

sábado, 28 de março de 2009

Novos tempos?

Este blog têm ficado assim, meio abandonado,por falta de tempo e outras “cositas” mas cá estamos para não perder o hábito...

Essa foi uma semana agitada para todos os que estão envolvidos com música (autoral) em Minas gerais. Articulações de entidades como a COMUM (Cooperativa da Música de Minas), SIM (Sociedade Independente da Música), CMMI (Circuito Mineiro de Música Independente), AMMIG (Associação Artística dos Músicos de Minas Gerais) - que formam o Fórum da Música de Minas Gerais- junto à Secretaria de Cultura, deram origem ao programa Música Minas, cujo objetivo é dar maior visibilidade aos trabalhos produzidos por aqui. O projeto foi lançado oficialmente no dia 24 de março, no Palácio da Liberdade, e contou com a presença de produtores, músicos e demais profissionais ligados à essa cadeia produtiva.

A iniciativa e louvável e digna de nota, já que pretende promover a produção local e conta com uma verba total de R$ 1,554 milhão (um milhão, quinhentos e cinqüenta e quatro mil reais. O programa é formado por dois editais: o de passagens que concede transporte aéreo para artistas e demais profissionais da música quando os mesmos receberem convites para participação em eventos importantes em outras localidades, e o de circulação, através do qual serão selecionados 25 artistas para a realização de 75 shows em capitais do país e no exterior. O texto diz que tanto artistas de renome quanto aqueles que ainda estão buscando seus espaços terão oportunidade, independente do estilo musical.

Se na prática tudo será tão democrático assim, sem privilégios, só o tempo dirá.
Mas, desde já, podemos dizer que é uma grande conquista, viabilizada pela organização da classe artística local. Não se pode mais negar que existe uma forte movimentação e articulação da cena no estado. Que novos avanços venham!

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Bela sapatada!


A saída do "W" da casa Branca não poderia passar batido neste blog, não é mesmo?


Bom, o Cowboy texano, famoso por suas gafes, pelas fraudes eleitorais e, principalmente, por promover "guerras fictícias", como bem disse o cineasta estdunidense Michael Moore, finalmente vai pendurar as chuteiras. Claro, isso depois de ter realizado o sonho de ser "Senhor da Guerra", brincar de mocinho e bandido contra o vilanesco Sadan Hussein, ter deixado toda a nação iraquiana em condições que nem o pior dos ditadores conseguiria sozinho além de criar seu próprio campo de concentração em Guantanamo.


Se a administração Bush Júnior trouxe algo de positivo ao mundo foi mostrar até aos maiores puxa-sacos do Tio Sam que as missões humanitárias do exército americano ao redor do mundo de fato não tem nada de "humanitárias".

Claro que eu lamento, entre outras coisas, pelo fato do jornalista iraquiano Al Zaide não ter uma mira melhor e ter finalmente desmanchado aquele sorrisinho neo-conservador com uma bela sapatada!

(parafraseando meu amigo Boave)Saravá!

sábado, 10 de janeiro de 2009

Um mundo em transição?



O título acima não é nenhuma tentativa de ironia ou coisa parecida. É realmente uma pergunta. Impossível deixar de notar algumas mudanças importantes, principalmente no campo político. Me refiro, entre outras coisas, à vitória do senador norte-americano, Barack Husseim Obama, recentemente alçado à condição de chefe de Estado da nação mais poderosa do mundo. Tudo bem, seria apenas mais um a ocupar a Casa Branca não fosse o fato de se tratar de um negro de ascendência queniana.


Fato estarrecedor, principalmente se levarmos em conta o fato de que há apenas 40 anos atrás, pouquíssimo tempo em termos históricos, os negros estadunidenses ainda lutavam por direitos básicos de cidadania, e apanhavam por isso. A eleição do senador democrata representa uma espécie de ruptura importante com alguns conceitos arcaicos e com uma história marcada pelo racismo. Isso obviamente não quer dizer que o racismo acabou, nem aqui nem lá, mas é um passo e tanto. Dizer que as coisas só pioram é tão mentiroso quanto afirmar o contrário. A história é feita de avanços e retrocessos.


Acho que fui feliz em muitos aspectos, principalmente por poder ter presenciado, em meu tempo, alguns fatos importantes da história mundial. Em 2003 quando o operário Luiz Inácio Lula da Silva assumiu a presidência do Brasil, era algo igualmente grandioso. Pela primeira vez não eram os membros das oligarquias brasileiras que ocupavam o cargo. Em um país marcado por uma ditadura que durou décadas, e cujos efeitos repercutem até hoje, dominado desde sempre por uma elite que sempre governou para ela própria e cuja história política (não poderia ser diferente) fora construída de cima para baixo, a assensão de Lula ao poder era algo no mínimo inusitado.


Verdade que a questão da reforma agrária permanece onde sempre esteve e o fato de ter sido um governo de alianças com antigos inimigos políticos (como qualquer governo brasileiro será se não ocorrer uma reforma política) fez com que não tivessemos uma administração tão progressista.
Mas nem isso tira a importância histórica do fato e as conquistas, inéditas até então, conseguidas por este governo. Mesmo com as perseguições preconceituosas, onde ele era acusado de ser um homem pouco “culto” e, portanto, incapacitado para assumir tamanha responsabilidade, o governo conseguiu dar passos importantíssimos na área social, embora utilizasse boa parte da cartilha econômica do antecessor, Fernando Henrique Cardoso. Tivemos ainda a assensão de outros governos de esquerda na América Latina, como Hugo Chavez na Venezuela e do índio Cocalero, Juan Evo Moralez na Bolívia. Enfim, o mundo está em um processo de mutação só imaginável há décadas atrás em livros de ficção, e daqueles otimistas ainda.


Voltando ao senador Obama, agora presidente, é sem dúvida um marco histórico, que eu espero, num futuro próximo não seja mais motivo de tanta comemoração, porque aí os negros já terão conquistado seu lugar na sociedade em pé de igualdade e nada disso chamará a atenção (se bem que isso é pauta pra outra discussão). De qualquer forma, é importante salientar que a América continuará lutando por sua posição hegemônica no mundo. Independente de quem estiver no poder, democratas ou republicanos.
Claro que o cowboy texano, segundo da linhagem dos Bush a assumir a presidência, conseguiu ser mais desastroso do que a política de seu próprio país permitia, mas a relação entre o Tio Sam e o resto do mundo não deve mudar tanto assim. Obama representa uma ruptura óbvia, mas ainda assim é o representante dos Estados Unidos da América.

De qualquer forma há um sentimento de otimismo em todo o mundo por conta da eleição de Obama, o que fez com que 2008 tivesse um sabor de “final feliz” (mesmo que não para todos), pelo menos no que diz respeito aos rumos da política mundial. Se as expectativas serão frustradas ou não só o tempo dirá. O discurso pelo menos é menos conservador e retrógado que o do seu antecessor. O fato em si já é digno de nota justifica um certo otimismo, mesmo que o façamos com os “pés no chão”.