Cada vez que ligo a TV, ou leio as manchetes, encontro situações que me surpreendem, tanto pelo grau da barbárie, quanto pelo nível de intolerância ainda existente, num mundo que muitos consideram evoluído.
Notícias de violência gratuita já são lugar comum na imprensa, como aquela que relatava a história de um pai e um filho que foram atacados durante um rodeio, porque foram confundidos com gays. Como se a opção sexual de alguém fosse justificativa pra esse tipo de violência.
Notícias de violência gratuita já são lugar comum na imprensa, como aquela que relatava a história de um pai e um filho que foram atacados durante um rodeio, porque foram confundidos com gays. Como se a opção sexual de alguém fosse justificativa pra esse tipo de violência.
O incrível é que para muitos essa é sim uma boa razão e os responsáveis, em sua maioria, não são os pobres, aqueles a quem normalmente são atribuídos os crimes violentos (vide Datena e similares). Os crimes de intolerância costumam vir dos “bem nascidos”, dos que tiveram acesso à educação, aos bens de consumo, e a um repertório cultural que, em tese, deveria fazer deles pessoas melhores. Ledo engano! Isso não aconteceu, e talvez as vantagens tenham dado a essas pessoas o falso senso de superioridade que as orienta a agir assim. Viver em um mundo dominado pelo preconceito e classificações que dividem o planeta entre os “mais ou menos” humanos, de acordo com critérios étnicos e culturais arbitrários é um desafio que tem crescido cada vez mais, principalmente porque, ao contrário da violência gerada pela pobreza e pela exclusão, essa não é gerada pela falta de oportunidades.
Não que uma seja melhor que a outra, mas a violência da qual estamos falando é mais difícil de ser combatida, porque vem justamente de uma certeza absoluta e cegante de que existe um padrão para a orientação sexual, para a cor, para o gênero, e consequentemente, em um nível mais extremo, existe o ódio como resposta a tudo que não se assemelhe ao “padrão”.
Recentemente assistimos atônitos ao atentado terrorista que vitimou várias pessoas na Noruega e, contrariando uma percepção preconceituosa e errônea, o ato não veio de nenhum muçulmano (como se o terrorismo fosse uma exclusividade deles, ou estivesse intrinsecamente ligado àquela cultura). O atentado veio de dentro e foi motivado pela mesma certeza de superioridade citada anteriormente. O atirador Anders Behring Breivik escreveu um manifesto no qual acusava a Europa de seguir um caminho semelhante ao do Brasil, no que refere-se à miscigenação e mistura de culturas, experiência que ele apontava como a responsável pelos “problemas” e atraso do país.
Essa visão estereotipada, capaz de atribuir mais ou menos humanidade a determinados grupos, fez com que outros garotos “bem nascidos” ateassem fogo ao índio pataxó Galdino Jesus dos Santos em Brasília, além de outros incontáveis crimes contra a vida. Quando entrevistados disseram que pensavam se tratar de um mendigo.
Mais uma vez o discurso demonstrou claramente a ausência de empatia e a total falta de humanidade, ou “excesso” dela, já que cada vez me convenço mais, salvo raras exceções, de que a espécie é realmente auto-destrutiva. No fim das contas, são as excessões que mantêm minha crença nas possibilidades de mudança.