Estava em minha casa no domingo, 9 de
março, quando, desavisado, li sobre um tal “panelaço” que teria ocorrido
enquanto Dilma fazia um pronunciamento na TV. Morador da ZN (Zona Norte) que
sou, e antes disso, criado na região noroeste de Belo Horizonte, não ouvi nada.
Só mais à frente fui entender que os principais focos da manifestação, na qual
a presidente foi xingada de “vaca” e aconselhada a “procurar um marido”, entre
outras coisas, aconteceu justamente nas ditas regiões tradicionais da cidade,
de maior poder aquisitivo, o que, obviamente não deslegitima nada. Todo
protesto é livre e “legítimo”, como disse a amiga e jornalista Márcia Maria
Cruz em seu post, mas me encabula que a dita parcela “esclarecida” a
autointitulada “elite cultural”, portadora dos bons hábitos, dentre os quais se
incluem ir ao teatro, cinema e ouvir MPB (porque novela, pagode e funk são
coisas de gente sem instrução), tenha que recorrer (de novo) ao que há de mais
baixo, incluindo termos preconceituosos, machistas e sexistas como forma de
expressão. Detalhe bem lembrado em alguns comentários que li: os ataques
ocorreram no mesmo dia em que mandaram flores, chocolates e felicitaram as
mulheres pelo “seu dia”, que, pelo visto, acabou mais cedo.
Nessas horas todo o “verniz” vai por
água abaixo e demonstra que a nossa “elite” pode ser qualquer coisa, menos
esclarecida.
E não digo isso porque discordo do
posicionamento, mas porque as razões são, em sua maioria, ou equivocadas,
porque os argumentos apresentados (ao menos os que vi até agora) demonstram que
não entenderam realmente lhufas do que tem acontecido na política nacional, ou
egoístas, porque no fundo há um preconceito de classe enrustido (agora
explícito) que norteia toda a “indignação” além de uma dose cavalar de
hipocrisia aliada a miopia, porque se alguém estivesse realmente protestando
contra a corrupção estaria gritando por reforma política, não pedindo um impeachment,
cuja base legal que o justifique simplesmente não existe. Nem mesmo sob o
pretexto da investigação dos escândalos da Petrobrás, cujos desvios datam de
mais de 14 anos atrás (no mínimo), tanto que renderam um Prêmio Esso ao
jornalista Ricardo Boechat, quando escreveu sobre o assunto ainda nos tempos do
governo FHC.
Da minha parte: não sofro de nenhum
complexo de avestruz, e na conjuntura política apresentada em 2014 o meu voto
seria o mesmo, como foi da Dilma na ocasião. Embora a minha escolha
não tenha sido por um ministério conservador como o que está aí, formado em
parte, pela pressão dos “aliados” e para satisfazer o eleitorado “elitizado”, o
mesmo do “panelaço” e dos xingamentos nas redes (anti) sociais e que, de vez em
sempre, confunde o privado com o público e acredita realmente que dinheiro
usado para beneficiar grupos sociais menos favorecidos é única e exclusivamente
seu. Gente que, no fundo, se incomoda mais com bolsa família e similares do que
com a dita corrupção, porque se a indignação fosse realmente tão grande já teriam pedido
a cabeça do Maluf há tempos.
A melhor síntese de tudo isso, bem
mais qualificada e menos verborrágica que a minha foi a do Juca Kfouri, de
longe um dos melhores jornalistas do país, pela clareza e honestidade
intelectual de seus textos. http://blogdojuca.uol.com.br/2015/03/o-panelaco-da-barriga-cheia-e-do-odio/
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