A batalha pela preservação de um teatro em Belo Horizonte
É comum e generalizada a sensação de impotência diante das decisões que
“vem de cima”. É como se as determinações oriundas das grandes corporações ou
dos poderes executivo, judiciário e legislativo fossem intocáveis,
irrefutáveis, com caráter quase divino. Normalmente pouco se questiona e até
mesmo figuras tidas como combativas tendem a entender que certas lutas devem
ser dadas como perdidas, diante do medo provocado pelo tamanho e poder do
adversário. O mesmo pensamento é compartilhado do outro lado e é neste momento
que a espiral do silêncio ganha força. A sensação de embotamento, fragilidade
diante das coisas ganha dimensões maiores que o próprio desafio colocado.
Felizmente existem as pequenas exceções e que fazem sim, grande diferença
frente ao poder de fogo visto como incontrastável ou imbatível.
Diante da decisão do Tribunal de Justiça de Minas Gerais em fechar o
Teatro Klauss Vianna e transformá-lo em auditório para suas audiências, um
pequeno grupo de artistas se mobilizou para demonstrar o impacto da perda do
espaço para a cidade e, assim, reverter o processo. Os indícios não eram os
mais positivos.
Não me arrisco na linguagem do “juridiquês”, mas as informações que
corriam eram de que a decisão de declarar o imóvel como utilidade pública, bem
como a impossibilidade da existência de um teatro sob aquelas condições eram
verdades pétreas, finalizadas e indiscutíveis.
Os participantes do movimento Viva Klauss deram o que considero uma das
maiores lições de cidadania que pude presenciar na história recente da cidade.
A despeito das perspectivas nada otimistas, pelo menos aos olhares externos, o
grupo prosseguiu com suas manifestações em frente ao teatro, mesmo com um
quórum reduzido, procurou apoio de representantes políticos, tentou
sensibilizar a população quanto ao problema e prosseguiu.
O Klauss Vianna, cuja morte anunciada e “irreversível” estava marcada
para o fim de julho, ganhou parecer positivo de continuidade em reunião
realizada na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, nesta quarta-feira, 10de
junho. Pedro Bittencourt, presidente do Tribunal de Justiça, após toda a
mobilização, avalia a possibilidade de manter o teatro em pleno funcionamento,
com acesso autônomo independente do tribunal. É uma “pequena”, mas muito significativa
vitória. Em agosto a questão será votada por 120 desembargadores e, por
fim, teremos a definição do destino do teatro. Luta que segue e alguns bons
exemplos que ficam e inspiram.
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