Novo vídeo de Emicida escancara a violência das relações sociais e
raciais no Brasil
“Boa esperança” nova música do
rapper paulistano Emicida traz sem reticências a raiva e a indignação de quem sempre se viu à margem e sempre foi tratado como sub espécie, sub cidadão, sub...Tudo. Nestes dias em que a tensão racial
volta a ser pauta nas terras do Tio Sam, após os assassinatos de Michael Brown, em Ferguson, e de Freddie Gray, em Baltimore, a abordagem não poderia ser mais pontual e
cirúrgica. Enquanto isso, no Brasil dos Amarildos e Cláudias, assassinados e sempre anônimos e estigmatizados, as redes sociais tornam-se palco das discussões raciais caladas há séculos por aqui. A jornalista Maria Júlia Coutinho, negra atacada verbalmente na internet por ousar ser a nova "moça do tempo" do Jornal Nacional, torna-se o mais recente símbolo da intolerância racial tupiniquim, ainda vista como uma exceção por aqui.
“Boa Esperança” traz um título irônico. Ao discorrer sobre o tema da desigualdade social e racial, Emicida apresenta um resumo que mistura relato à fúria e sofrimento. A narrativa do videoclipe dirigido por Kátia Lund (Cidade de Deus) mostra a história de empregadas domésticas que se rebelam contra seus patrões. Sob a trilha sonora impactante e direta são apresentadas as cenas em que senzala toma o lugar da casa grande.
“Boa Esperança” traz um título irônico. Ao discorrer sobre o tema da desigualdade social e racial, Emicida apresenta um resumo que mistura relato à fúria e sofrimento. A narrativa do videoclipe dirigido por Kátia Lund (Cidade de Deus) mostra a história de empregadas domésticas que se rebelam contra seus patrões. Sob a trilha sonora impactante e direta são apresentadas as cenas em que senzala toma o lugar da casa grande.
O vídeo, violento, como é o tema abordado,
muda os papéis historicamente conhecidos ao transformar as vítimas habituais em algozes e explicitar o que tem sido negado ao longo dos anos: a “abolição” atendeu
a uma necessidade mercadológica, mas não alterou em nada as relações. Os resquícios
da sociedade escravocrata permanecem, com os mesmos “sinhozinhos” e capitães do
mato. Sintomático no país em que os quase 50% da população, declarados afrodescendentes, representam mais de 80% dos pobres e são maioria da população carcerária. Já dizia a letra de Marcelo Yuka “Todo
camburão tem um pouco de navio negreiro” e acrescento, tem muito!
O vídeo não é apontado como o
mais corajoso de 2015 à toa. É um
momento singular da nossa história, em que o conservadorismo sai do armário e
mostra garras e dentes para manter posições e privilégios. Tratar de um assunto como este, sempre tratado como tabu, quando não abordado de forma maliciosa atribuindo a existência do preconceito aos próprios negros.
A produção vem sendo taxada de violenta, mas se esquecem que as relações sociais estabelecidas no país são violentas. A violência começa na desigualdade, na disparidade de oportunidades, na proposta punitiva da redução da maioridade penal sem que ao menos se pense em formas de oportunidades iguais aos jovens que querem trancafiar. Diante de tudo isso, do contexto histórico de violência, invisibilidade e exclusão, o vídeo é apenas uma alegoria "leve" que nem chega a inverter os papeis, apenas apresenta uma possível reação.
Emicida não se intimida e deixa claro e marcado o seu lado. O recado foi dado de forma didática. Uma maioria segregada circula por aí e se os dados não incomodam é preciso chocar pela força das palavras e das imagens.
A produção vem sendo taxada de violenta, mas se esquecem que as relações sociais estabelecidas no país são violentas. A violência começa na desigualdade, na disparidade de oportunidades, na proposta punitiva da redução da maioridade penal sem que ao menos se pense em formas de oportunidades iguais aos jovens que querem trancafiar. Diante de tudo isso, do contexto histórico de violência, invisibilidade e exclusão, o vídeo é apenas uma alegoria "leve" que nem chega a inverter os papeis, apenas apresenta uma possível reação.
Emicida não se intimida e deixa claro e marcado o seu lado. O recado foi dado de forma didática. Uma maioria segregada circula por aí e se os dados não incomodam é preciso chocar pela força das palavras e das imagens.
“Favela ainda é senzala, Jão, bomba
relógio prestes a estourar”
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