O fato de o programa “Pânico”
prescindir de qualquer bom senso para produzir suas “piadas” não é nenhuma
novidade. É o tipo de humor que se vale mesmo do mau gosto e do vale tudo. Há
quem defenda que, tratando-se de “fazer graça”, realmente vale qualquer coisa.
Discordo. Se o humorista precisa recorrer ao preconceito para fazer rir, isso
só prova o quanto o sujeito é limitado e mal intencionado mesmo. Não tem meio
termo pra isso. Nos comentários do post
relacionado ao quadro racista do programa houve quem argumentasse que “agora
tudo é racismo, preconceito, etc”. A velha retórica que tenta desqualificar
quem achou a piada ofensiva utilizando termos como “mi, mi,mi” ou “politicamente
correto”. A pergunta que me vem é a seguinte: O que você entende por “preconceito”?
Uma das formas mais eficazes de perpetuar estereótipos negativos em relação a
gênero, etnia ou orientação sexual é justamente aquela piadinha cotidiana,
rasteira e imbecil que de inocente não tem nada, já que ela nasce de uma
cultura que realmente naturaliza a inferioridade atribuída a determinados grupos.
Dizer que está tudo bem porque “eles fazem piadas de brancos também”, é
canalhice deliberada ou (foi mal o termo) burrice mesmo. E eu não sei o que é
pior, neste caso. Se for a segunda opção a figura precisa compreender a historia
a partir do Big-Bang e haja tempo pra isso. Nessa mesma linha de raciocínio, há
quem reclame o fato de a sociedade estar ficando mais “careta”, que antigamente
podia tudo e hoje não pode nada. Francamente... “Antigamente” meus ancestrais
podiam ser açoitados em praça pública, ser homossexual era crime em várias
partes do mundo, um estuprador seria perdoado se aceitasse se casar com a
vítima e não faz muito tempo que o Brasil deixou de negar com tanta veemência o
seu racismo. Reclamar porque as pessoas não se comportam mais como há anos
atrás e não aceitam determinadas manifestações preconceituosas, não faz
sentido. O mundo muda, a sociedade muda, e não é quem reclama da piada acéfala
e anacrônica que está errado. Tanto o piadista do vale tudo quanto o seu
público estão vivendo outro tempo que, felizmente, não volta mais.
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