Feliciano têm sido o assunto do momento, na imprensa, nas
redes sociais... A simples menção do seu
nome já suscita discussões acirradas nos ambientes mais diversos, incluindo
espaços acadêmicos e igrejas. Ao assumir
a Presidência da Comissão dos Direitos Humanos, este, até então desconhecido
pastor evangélico e Deputado eleito pelo PSC –SP conseguiu dois efeitos
pontuais: O primeiro, foi levantar o debate sobre os direitos civis dos gays no
país, e o segundo foi provocar a reação de uma boa parcela da população (e não
importa aqui se é ou não a maioria) que, de fato, não se viu representada por
Marco Feliciano, que faz declarações públicas que soam no mínimo estranhas para
alguém que está à frente de uma pasta como a da já citada Comissão.
O Jornalista e blogueiro Reinaldo Azevedo, bem conhecido por
suas posições conservadoras e por ter chamado Oscar Niemeyer de “idiota” em uma publicação que falava da morte do
arquiteto, publicou um texto no qual abordava as manifestações contrárias ao
pastor e deputado Marco Feliciano, taxando-as de “autoritárias e ditatoriais”.
Segue o link abaixo:
Mandei minha réplica ao texto que considero equivocado em
vários aspectos, mas como não fui "publicado", após 5 tentativas, resolvi postá-lo no
meu próprio blog.
Segue:
Discordo
totalmente da ideia central do texto.
Só
retomando o caso, nem de longe a pressão popular (e não importa se é exercida
ou não pela "maioria") se deve ao fato de Feliciano ser evangélico,
ou acreditar seja lá no que for.
O
principal problema é que o Deputado em questão não possui as "atribuições necessárias" para liderar a Comissão de Direitos Humanos e
Minorias., para não dizer diretamente que ele á a pior escolha possível para o cargo! A defesa que muitos irão fazer
é: "Mas tudo o que ele disse está
de acordo com a Bíblia, etc, etc". Argumento bem desgastado e a
discussão idem, mas o fato é que não está em questão o perfil ideológico ou
mesmo a visão religiosa pura e simplesmente, mas, repito, a incompatibilidade
dessas opiniões com o cargo exercido por ele no momento.
Sim,
Reinaldo Azevedo, o mandato de Marco Feliciano como deputado federal é
legítimo, escolhido pelo voto da maioria do eleitorado em um sistema
democrático. Ok. Mas, definitivamente, essa não é a cerne do debate.
O
que é devida e legitimamente questionado é o fato de um deputado que não possui
a menor afinidade com o trabalho realizado pela comissão (se ele disser o
contrário simplesmente não sabe o que diz), inclusive apresenta argumentos
antagônicos a várias das pautas centrais de grupos que estão ali
“representados”, ocupar justamente este cargo. Claro que eu sei que você sabe
de tudo isso (acho eu). Mas seu texto se afasta, e acho que propositalmente, do
motivo real dos protestos e transforma manifestações que só surgiram para que a
Comissão de Direitos Humanos não se torne inútil (sim, porque com Feliciano à
frente nem sei porque ela deveria continuar existindo) em “gritos de
baderneiros” que pedem que o deputado abandone o mandato para o qual foi
eleito.
O
GRITO (coletivo, diga-se de passagem) é contra uma articulação política
irresponsável, na qual o PT se mostrou extremamente equivocado. E pouco importa
se Feliciano representa “212 mil pessoas que votaram
nele”, isso me parece lógico, uma vez que ele foi eleito por estes, e mais
lógico ainda que suas opiniões reflitam a visão do seu eleitorado, mas quem não
se sente representado(a) por este homem são justamente as pessoas que veem na
Comissão de Direitos Humanos uma voz a favor de suas demandas, que nada mais
são que a busca por direitos iguais, em todos os âmbitos, não uma busca por
privilégios. Ou isso não é legítimo?
E aí, outra distorção: Marco Feliciano representa outros grupos,
muitos e numerosos aliás, e a dita comissão está aí para eles também, mas é
necessário que estes “outros” entendam que a comissão tem que ser presidida por
quem esteja mesmo disposto a lutar pelas minorias e tenha o olhar sóbrio e
isento o suficiente para que analise as reivindicações sem que a visão
ideológica ou religiosa interfira. A julgar pelas falas do próprio Feliciano,
não é este o caso.
O “não me representa” é o exercício do direito à opinião, dos
grupos que sentiram o quanto a comissão perdeu com a escolha. E não importa (de
novo, e de novo) se são celebridades ou não. A ênfase neste aspecto é inócua. É
cidadania em exercício, só isso.
Ah, e o Parlamento realmente não existe apenas para nos
representar (faço parte das minorias mimadas às quais você se refere), mas
decisões que interfiram em conquistas da sociedade devem ser sim questionadas,
e se uma parcela da sociedade se sentiu incomodada, tem mais é que se fazer
ouvir. Não a qualquer custo, mas demonstrar sim a insatisfação.
Os “radicais do teclado” incomodam? Pois os conservadores também.
Bem vindo a era da internet! =)
E os gestos simbólicos na internet, ou nas ruas, são válidos e não
tem nada de anti-democráticos. Ninguém está cerceando a liberdade alheia, mas
fazendo uso do direito à voz. Se incomoda, são outros quinhentos...E é pra
incomodar. Fazer afagos não é a intenção. Baseado no seu conceito de
participação popular, que parece se restringir apenas ao sufrágio, as passeatas
contra a ditadura militar ou mesmo os protestos contra Fernando Collor jamais
deveriam ter acontecido, não? Afinal tudo isso é “uma tolice autoritária, de
viés ditatorial e um emblema da era da ignorância mimada e saliente”
E antes que eu me esqueça: Sou jornalista, negro, atleticano,
hétero,de Belo Horizonte e Feliciano não me representa!